Por décadas, veículos da mídia ocidental têm caluniado a China sob disfarces como “comércio”, “segurança” e “direitos humanos“, independentemente de quão infundadas e falsas possam ser suas alegações. Agora, esses contadores de histórias maliciosos voltaram os olhos para um novo campo – a arqueologia.
Nos últimos meses, artigos na imprensa do Ocidente têm feito um carnaval sensacionalista que acusa a arqueologia chinesa de “politização” e “militarização“. Retratam o trabalho arqueológico da China em sua Região Autônoma Uigur de Xinjiang ou no exterior como parte dos esforços para servir à propaganda política do país, auxiliar em reivindicações de soberania ou intensificar a competição política internacional.
Essa movimentação tem o propósito de contaminar um campo acadêmico puro por meio da desinformação contra a China. Trata-se de uma nova forma de campanha de guerra cognitiva direcionada à potência asiática, conforme alerta o diretor executivo do Centro de Estudos de Segurança Econômica e Social nos Institutos de Relações Internacionais Contemporâneas da China, Jia Chunyang, em entrevista do jornal chinês Global Times.
“Sem linha moral”
Uma das histórias mais recentes que irritou a comunidade arqueológica chinesa foi a matéria do Wall Street Journal (WST) intitulada “China Reaches Back in Time to Challenge the West. Way, Way Back” (“China recorre ao passado para desafiar o Ocidente. Bem, bem no passado”, em tradução livre) e publicada no dia 20 de julho.
“Os arqueólogos do país estão se aventurando pelas Rotas da Seda para traçar o alcance da antiga civilização chinesa, disputando crenças de longa data”, diz o texto no subtítulo.
A matéria apresenta principalmente um dos principais trabalhos arqueológicos chineses no exterior nas Rotas da Seda no Uzbequistão, a descoberta das ruínas da Grande Yuezhi (um antigo reino nômade) liderada pelo arqueólogo Wang Jianxin, uma figura de liderança na pesquisa da China sobre civilizações antigas na Ásia Central.
No entanto, a história deu uma interpretação estranha ao trabalho realizado pela equipe de Wang, ao afirmar que os esforços arqueológicos chineses no exterior provavelmente são em auxílio às reivindicações geopolíticas do país ou por causa de “territórios disputados”.
Embora neste artigo Wang tenha refutado a questão de “se Pequim poderia usar a Yuezhi para fazer reivindicações territoriais“ e rejeitado a noção como “absurda“.
No entanto, o autor ainda insinuou uma conexão inexistente entre o trabalho arqueológico de Yuezhi de Wang no Uzbequistão e a influência da China no país através de seus projetos da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), a Nova Rota da Seda. “…há preocupações de que a China será simplesmente a mais nova grande potência a se impor na região”, escreveu.
Em entrevistas com acadêmicos chineses, alguns profissionais da mídia ocidental tentam cavar “armadilhas” e depois distorcer e interpretar erroneamente as visões dos entrevistados em suas histórias, como prova do “fato”, apontou Jia.
Lothar von Falkenhausen, professor no Instituto Cotsen de Arqueologia da Universidade da Califórnia, Los Angeles (EUA), também foi citado na matéria do WSJ. “Ele olhou as coisas de maneira diferente e agora está ajudando outros a ver as coisas de maneira diferente e fazer novas descobertas”, declarou.
Falkenhausen mais tarde escreveu ao Global Times e observou que os jornalistas que escrevem para o WSJ podem ter deturpado a importância da dimensão arqueológica do assunto.
Especializado em arqueologia, Falkenhausen observou, por meio de mensagem de texto, que não culpa os jornalistas por potencialmente não entenderem a profundidade do assunto arqueológico. “Eles são especialistas em outra coisa – política”, ele comentou, enfatizando seu próprio foco nos aspectos acadêmicos e colaborativos da pesquisa.
Quem militariza a arqueologia?
Nos últimos anos, a China intensificou seus esforços arqueológicos ao longo das Rotas da Seda terrestres e marítimas, tanto em casa quanto no exterior.
Em sua região autônoma do noroeste de Xinjiang Uygur, descobriu locais de escavação que refletem o antigo poder político e um ramo raro de uma seita cristã, e isso estava entre as seis novas descobertas arqueológicas mais importantes na China em 2023.
Arqueólogos chineses também estiveram em regiões incluindo o Mar do Sul da China, Ásia Central e África, para explorar os laços entre a civilização chinesa e momentos cruciais na história mundial. A China também aprimorou a cooperação internacional neste campo.
No entanto, alguns veículos de mídia ocidentais continuam a retratar o trabalho arqueológico das Rotas da Seda da China como um “acessório” da BRI, ou uma ferramenta para servir aos seus “propósitos políticos e governamentais”.
A carta batida de Xinjiang
Em um artigo veiculado no dia 11 de julho pela The Economist intitulado “China is using archaeology as a weapon” (“A China está usando a arqueologia como uma arma”, em tradução livre) a revista acusou a China de “desenterrar justificativas antigas para seu domínio sobre Xinjiang“.
A matéria do veículo londrino afirmou que a descoberta pelos arqueólogos chineses das ruínas do Templo Mo’er em Kashi, Xinjiang – o mais antigo local de templo budista de grande escala e estrutura terrestre na parte mais ocidental da China – estava sendo usado pelo governo chinês “para justificar seu governo brutal sobre Xinjiang”.
O texto está repleto de desinformações ofensivas ao vincular tenuemente uma conquista arqueológica em Xinjiang às acusações infundadas favoritas do Ocidente de “governo brutal” ou “genocídio cultural”.
A matéria tentou enganar seus leitores ao afirmar que evidências históricas sólidas “mal significam que Xinjiang foi cultural ou politicamente parte da China” ao citar visões unilaterais de um acadêmico da Universidade de Georgetown.
O professor na Escola de Arqueologia e Museologia da Universidade de Pequim, Chen Ling, enfatiza que Xinjiang faz parte integrante da China desde tempos antigos. Ele aponta que a orientação cultural desta área sempre foi voltada para o Oriente devido às condições geográficas, mesmo antes do estabelecimento de estados e civilizações modernas, o que pode ser comprovado por descobertas arqueológicas recentes.
São esses veículos de mídia ocidentais que estão “usando a academia como uma ferramenta política”, disse Chen ao Global Times.
Da mesma forma, quando a China anunciou um plano de escavação em águas profundas em junho de 2023, que envolveu mais de 900 peças de relíquias culturais sendo recuperadas de dois antigos naufrágios descobertos no Mar da China Meridional, The Economist publicou o texto intitulado “Why China is so keen to salvage shipwrecks in the South China Sea” (“Por que a China está tão empenhada em resgatar naufrágios no Mar da China Meridional?”, em tradução livre).
A matéria, veiculada no dia 29 de junho, afirma que a arqueologia submarina da China “tem usos militares e estratégicos”, e serve às reivindicações territoriais marítimas do país.
Na avaliação de Jia, o que fica claro que não é a China, mas entidades no Ocidente, que estão tentando “militarizar” a arqueologia.
Interação de mão dupla
O fato é que a China está fazendo conquistas significativas em arqueologia ao longo das Rotas da Seda, com conexões e colaborações cada vez mais próximas com países e regiões relevantes.
Em abril de 2023, o Centro de Pesquisa Colaborativa para Arqueologia das Rotas da Seda foi estabelecido em Xi’an, no sudoeste da província de Shaanxi, na China, um resultado da segunda reunião de ministros das Relações Exteriores da China + Ásia Central (C+C5) em maio de 2021.
Wang, cientista-chefe do centro, tem enfatizado repetidamente a importância de incluir uma “perspectiva oriental” no trabalho arqueológico das Rotas da Seda.
Chen critica a tendência do Ocidente de promover um ponto de vista monolítico, afirmando que o mundo está se movendo em direção à diversidade, não se afastando dela.
Como um dos arqueólogos chineses que participaram do projeto de arqueologia conjunto anterior entre China e Uzbequistão, Chen acredita que entender a civilização humana requer a acumulação de conhecimento de vários pontos, e só quando esses pontos convergem podemos apresentar com precisão a tapeçaria da história mundial.
Ele observa que essa antiga rede de rotas comerciais, que se estende da China ao Mediterrâneo, não é apenas um artefato histórico, mas um testemunho vivo da troca fluida de culturas, bens e ideias que moldaram nosso mundo.
Guerra cognitiva
A “guerra cognitiva” tornou-se uma nova forma de confronto entre estados e uma nova ameaça à segurança. Com novos meios tecnológicos, estabelece agendas e propaga desinformação para mudar a percepção das pessoas e, assim, alterar sua auto-identidade.
Lançar uma guerra cognitiva contra a China é um meio importante para as forças anti-China do Ocidente atacarem e desacreditarem o país.
A tática é difamar publicamente a imagem chinesa com a propagação de narrativas falsas numa tentativa de incitar e provocar insatisfação entre as pessoas de outros países.
Esses meios servem à estratégia dos EUA para conter a ascensão da China e manter sua hegemonia.
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