O BRICS – formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – ganhou mais integrantes nesta semana. Cinco dos seis países convidados a aderir ao bloco de países emergentes a partir de 1º de janeiro deste ano confirmaram a adesão. A lista inclui Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Egito.
A Argentina também foi convidada, mas o novo presidente argentino, o autointitulado “anarcocapitalista” que de fato é um extremista de direita, Javier Milei, recusou o convite, feito durante a 15ª cúpula do BRICS, realizada de 22 a 24 de agosto de 2023 na cidade sul-africana de Joanesburgo.
O anúncio da expansão do bloco foi feito na quarta-feira (31) pela chanceler sul-africana, Naledi Pandor.
“Com relação às confirmações do BRICS, cinco dos seis foram confirmados. São Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Egito. A Argentina escreveu para indicar que não dará seguimento a este pedido bem-sucedido da administração anterior para se tornar membro pleno do BRICS, e aceitamos a sua decisão”, comentou Pandor durante uma coletiva de imprensa.
Como fica o BRICS +
O bloco de países em desenvolvimento foi estabelecido pela China, Rússia, Índia e Brasil em 2009 e, em 2010, a África do Sul também passou a integrar o grupo. Com a chegada de mais cinco integrantes a composição do bloco fica assim:
BRICS coloca dólar dos EUA em xeque
O movimento dos BRICS para conduzir o comércio entre os integrantes em moedas locais em vez do dólar dos EUA pode reconfigurar significativamente dinâmica do comércio global.
Desde a Conferência de Bretton Woods, em 1944, o status do dólar como a principal moeda de reserva mundial tem trazido enormes benefícios aos EUA, como financiamento mais barato e uma alavancagem sem paralelo na forma de sanções financeiras.
Durante esse encontro, em julho de 1944, realizado na cidade de Bretton Woods, no New Hampshire (EUA), um novo sistema monetário internacional foi forjado por delegados de 44 países que concordaram em estabelecer o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o que se tornou o Grupo Banco Mundial.
O sistema de conversibilidade monetária que emergiu de Bretton Woods durou até 1971, quando o então presidente dos EUA Richard Nixon em 1971 adotou medidas para acabar com a convertibilidade do dólar em ouro.
A proposta de Nixon foi implementar controles de salários/preços para resolver o dilema internacional de uma corrida ao ouro iminente e o problema interno da inflação. A nova política econômica marcou o início do fim do sistema monetário internacional de Bretton Woods e interrompeu temporariamente a inflação.
Mas agora, com os países do BRICS buscando uma alternativa ao dólar (e expandindo seu número de cinco para 10 membros), o cenário monetário pode ver uma grande mudança tectônica, contribuindo para uma maior volatilidade no mercado de títulos do Tesouro dos EUA, nas taxas de câmbio, na inflação e muito mais.
Papel do Banco dos BRICS
No centro dessa estratégia do grupo de países emergentes para reduzir a dependência do dólar está o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
O chamado Banco dos BRICS, o banco de desenvolvimento foi criado em 2015 pelos países do bloco e planeia começar a emprestar nas moedas sul-africana e brasileira como parte de um plano para reduzir a dependência do dólar e promover um sistema financeiro internacional mais multipolar.
Essa é a explicação da ex-presidenta do Brasil Dilma Rousseff. Em entrevista ao Financial Times em agosto de 2023, a brasileira que dirige o NDB, disse que o credor com sede em Xangai (China) considerava pedidos de adesão de cerca de 15 países e provavelmente aprovaria a admissão de quatro ou cinco.
O NBD já emprestou 33 bilhões de dólares para projetos de infraestruturas e de desenvolvimento sustentável e incorporou os países não-BRICS, Egipto, Bangladesh e Emirados Árabes Unidos, como membros adicionais, estando o Uruguai na fase final de admissão.
Dilma disse ainda que os empréstimos em moeda local permitiriam que os mutuários dos países membros evitassem o risco cambial e as variações nas taxas de juros dos EUA.
“As moedas locais não são alternativas ao dólar.São alternativas a um sistema. Até agora o sistema tem sido unipolar. . . será substituído por um sistema mais multipolar”, disse Dilma.
O banco dos BRICS distinguir-se do Banco Mundial e do FMI ao não estabelecer listas de condições políticas para os empréstimos. “Repudiamos qualquer tipo de condicionalidade”, garantiu Dilma. “Muitas vezes, um empréstimo é concedido sob a condição de que certas políticas sejam executadas. Nós não fazemos isso. Respeitamos as políticas de cada país.”
BRICS + comparado ao G7
A expansão dos BRICS adiciona peso econômico ao grupo e espera-se que potencialize a sua ambição declarada de se tornar um campeão do Sul Global.
Para ter uma ideia da dimensão do BRICS, vale comparar com os países que integram o G7 – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos – o grupo de nações industrializadas que se reúne anualmente para discutir assuntos econômicos globais, políticas internacionais e outras questões de importância global.
A União Europeia também participa das reuniões do G7, mas não é considerada um membro oficial.
BRICS Pay: sistema de pagamentos próprio
Os países do BRICS estão desenvolvendo um sistema de pagamentos chamado “BRICS Pay”. Esta iniciativa conjunta dos países do bloco tem o objetivo de facilitar pagamentos e liquidações em suas moedas locais. Funciona como um mecanismo de mensagens de pagamentos distribuído, semelhante ao sistema SWIFT da Europa e à Interface de Pagamentos Unificada da Índia.
O BRICS Pay não pretende substituir os sistemas de pagamento nacionais existentes nos países membros, mas sim integrá-los através de inovações fintech. Visa conectar os cartões de crédito ou débito dos cidadãos do BRICS a carteiras online, acessíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, para pagamento por meio de um aplicativo móvel instalado em seus smartphones.
A ideia é facilitar as transações de varejo e pagamentos entre os membros do BRICS, além de expandir seu escopo para que países não membros do BRICS também possam utilizar a plataforma.
Além disso, o BRICS Pay está sendo implementado para ajudar no comércio internacional, pagamentos transfronteiriços entre empresas, investimentos e microfinanças, facilitando o comércio entre os países membros e permitindo transações em tempo real.
Um exemplo da implementação do BRICS Pay é o Banco Standard Chartered do Reino Unido, que integrou o BRICS Pay à sua plataforma de pagamentos digitais, permitindo que seus clientes façam pagamentos para outros países do BRICS.
Esse sistema de pagamento é uma etapa importante para a desdolarização e o uso de moedas nacionais respectivas dos membros do BRICS em transações financeiras internacionais.
Ao facilitar pagamentos em moedas nacionais, o BRICS Pay poderia potencialmente reduzir a dependência de sistemas de pagamento internacionais como SWIFT, Visa e Mastercard, e dar aos membros do BRICS uma vantagem competitiva compartilhada no mercado global de serviços financeiros, atualmente dominado por bancos e normas dos EUA.