A principal fabricante de chips da China está passando por outra grande mudança de liderança. A Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC) anunciou uma onda de demissões em documentos publicados para investidores da bolsa de valores na noite de quinta-feira (11).
Quatro diretores deixaram o cargo ao mesmo tempo, incluindo o vice-presidente Chiang Shang-yi. Ele ingressou na empresa há apenas um ano, vindo da gigante taiwanesa TSMC.
A notícia turva ainda mais as perspectivas para a SMIC, que vem tentando seguir em frente depois de ser colocada na lista de restrições dos Estados Unidos no ano passado. O ex-presidente da empresa, Zhou Zixue, também deixou o cargo em setembro por motivos de saúde pessoal.
A SMIC foi atingida ainda por um aviso regulatório da Bolsa de Valores de Xangai, que divulgou na quinta-feira que seu órgão de supervisão havia enviado à empresa uma carta de “supervisão”. A bolsa não entrou em detalhes sobre o que aquela mensagem implicava, ou forneceu uma razão para isso.
Os anúncios chocaram os investidores: as ações da empresa caíram cerca de 4% em Xangai e em Hong Kong na sexta-feira (12).
O conselho agora tem 11 diretores. Entre os que estão partindo está Liang Mong Song, atual co-presidente da SMIC. A empresa disse que Liang planeja permanecer na função executiva e que sua renúncia como diretor foi para se concentrar mais em suas funções de diretoria.
Chiang, por outro lado, citou o desejo de passar mais tempo com sua família, segundo a empresa. Gao Yonggang, presidente em exercício e diretor financeiro da SMIC, disse na sexta-feira (12) que Chiang permaneceria como consultor.
Os dois diretores restantes disseram em um processo regulatório que não tiveram nenhum desacordo com o conselho e que estavam se demitindo para dedicar mais tempo a outros compromissos de trabalho.
Em uma ligação com analistas na sexta-feira, Gao disse que as saídas “não teriam nenhum impacto material nas operações da empresa”.
Ele também disse que a empresa não tem planos em um futuro próximo de adicionar mais conselheiros, observando que o tamanho atual de seu conselho é semelhante ao de “outras empresas do setor”.
A SMIC relatou fortes lucros na quinta-feira, com um salto de mais de 30% na receita ano a ano para US$ 1,4 bilhão no trimestre encerrado em setembro.
Um ano desafiador
A SMIC, maior fabricante de chips da China, já lidou com tensões de liderança antes.
No ano passado, a empresa assustou os investidores ao revelar que estava tentando confirmar as notícias da mídia estatal chinesa de que Liang havia renunciado, aparentemente em protesto contra a nomeação de Chiang para o conselho.
Liang teria dito na época que estava preocupado com a nomeação de Chiang, o ex-co-chefe de operações da fabricante de chips taiwanesa TSMC. Desde então, os dois executivos permaneceram – até agora.
Mas a empresa também enfrentou uma série de contratempos públicos recentemente, incluindo ameaças dos Estados Unidos aos seus negócios enquanto tentava desempenhar um papel crítico na missão da China de se tornar mais autossuficiente em semicondutores.
No ano passado, o Departamento de Defesa dos EUA adicionou a SMIC a uma lista de empresas que a agência alegou serem de propriedade ou controladas pelos militares chineses, uma decisão que significava que a SMIC estaria sujeita a restrições como a incapacidade de aceitar investimentos americanos.
A SMIC disse na época que sua inclusão na lista “não teria grande impacto” em suas operações e que não tinha nenhum relacionamento com os militares chineses.
Os problemas da empresa foram posteriormente agravados por uma decisão separada do Departamento de Comércio dos EUA de adicioná-la a sua lista de restrições, o que limita a capacidade da SMIC de adquirir determinada tecnologia dos Estados Unidos, impondo mais requisitos aos exportadores americanos. A agência dos EUA citou preocupações com a segurança nacional.
A SMIC entrou na mira do governo dos Estados Unidos à medida que as tensões entre Washington e Pequim aumentavam em várias frentes, incluindo o futuro da tecnologia.
A tecnologia de ponta de chips está no centro disso. Grande parte do fornecimento de chips da China vem historicamente de empresas estrangeiras, que fornecem a peça para tudo, desde smartphones e computadores chineses até equipamentos de telecomunicações.
Pequim se comprometeu a melhorar sua tecnologia de fabricação de chips. A SMIC, cujos principais acionistas são empresas estatais, disse no ano passado que queria investir em tecnologia e alcançar seus concorrentes globais.
A empresa não respondeu imediatamente a um pedido de comentários adicionais.
Mas “desde que a SMIC foi colocada em uma lista de entidades pelos EUA … a empresa enfrentou enormes desafios na produção e nas operações”, disse Gao a analistas na sexta-feira.
“O ano de 2021 não é um ano comum”, acrescentou.