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sábado - 12 julho 2025 - 04:41

China faz planos para diminuir dependência de soja brasileira

Maior importadora do grão no mundo, a China passará a obrigar que suas províncias produzam anualmente pelo menos 650 milhões de toneladas de grãos e mantenham 6,6 milhões de hectares de terras aráveis de alta qualidade, mesmo com possíveis desastres naturais. As medidas também preveem cinturões dedicados à agricultura de grande escala e o desembolso de volumosos subsídios para produtores de grãos. A decisão vai ao encontro das tentativas de Pequim em reduzir a dependência de Estados Unidos e Brasil para garantir a segurança alimentar do país.

A soja é indispensável para a China. O produto é usado na produção de temperos, molhos e do tradicional tofu. Sua principal função, porém, é a alimentação do enorme plantel de suínos do país, animal considerado essencial na culinária chinesa.

Se em 2000, a China importava cerca de 13 milhões de toneladas da commodity, em 2020 este número saltou para mais de 100 milhões de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Brasil e Estados Unidos sustentaram praticamente sozinhos o volume demandado pelos chineses durante décadas. As flutuações no mercado causadas pela pandemia e, sobretudo, as rusgas diplomáticas mostraram aos chineses a necessidade de um plano B.

Ainda no ano passado, Pequim fechou acordos inéditos para compra de soja em países sem grande tradição no cultivo do grão. Apostando no aparecimento de novas áreas de plantio com as mudanças climáticas, o Ministério do Comércio assinou um acordo para combinar as áreas de produção de soja e construir uma aliança industrial com a Rússia. Até 2024, a China espera importar pelo menos 3,4 milhões de toneladas dos russos. Compromissos semelhantes também foram assumidos com Etiópia e Tanzânia. As quantidades ainda são irrisórias e nem de longe atingem a demanda nacional. Porém, quando somadas às novas diretrizes para plantio doméstico, devem servir de alerta para o governo brasileiro.

Quem avisa é a professora da Universidade Politécnica de Hong Kong, Hairong Yan. Considerada uma das maiores pesquisadoras chinesas nas áreas de mudança agrária e soberania alimentar na China, Yan diz que a Rússia e os países do Leste Europeu têm terras agrícolas prontas para o cultivo de soja. Ela também acredita que os acordos fechados com nações africanas visam o longo prazo e haverá tempo para que cada um deles desenvolva as capacidades agrícolas.

Há ainda uma preocupação adicional até agora ignorada pelo governo brasileiro: o custo ambiental. “A América do Sul tem sido um grande fornecedor, mas o preço da expansão da soja é o desmatamento”, pontua a professora.

Domesticamente, a decisão de apoiar produtores chineses também têm motivações sustentáveis. “Tradicionalmente, os agricultores chineses no Nordeste da China, que é a principal região produtora de soja, alternam entre soja e milho. A crescente importação de soja pressionou os agricultores domésticos a desistir de sua produção de soja e passar a cultivar apenas milho, mas isso não é bom para a sustentabilidade do solo. Encorajar agricultores domésticos também cumpre essa função ecológica”, ressalta Yan.

No curto prazo, a China vai continuar comprando muito. Mas eles não planejam para dois anos e sim para décadas, meio século. A questão ambiental vai ser cada vez mais importante. A China busca liderar as iniciativas de combate às mudanças climáticas e já fala em exigir que pelo menos 50% da soja brasileira seja rastreada [sustentável e livre de desmatamento] até 2023”.

Ao menos oficialmente, a China minimiza o impacto que as mudanças podem ter para o Brasil. Em entrevista ao MyNews, o ministro-conselheiro para o comércio da embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, diz que “diversificar vendedores não implica em diminuir a importância do Brasil”.

No ano passado, a China seguiu como o maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por 32,3% de todas as exportações brasileiras e por um superávit de US$ 33,6 bilhões. A demanda da soja também cresceu 5% no comparativo com 2019, atingindo as 60,6 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.

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