Por razões ideológicas, Milei ataca China e Brasil, os dois maiores sócios comerciais da Argentina

Candidato vencedor das primárias prometeu cortar relações com país asiático por ser ‘comunista’ e se afastar do ‘socialista’ Brasil e do Mercosul, bloco que ele classificou como uma ‘união alfandegária de baixa qualidade’

Milei afirmou em entrevista que pretende cortar relações com a China, segundo maior parceiro comercial da Argentina

Em uma de suas primeiras entrevistas após vencer as eleições primárias da Argentina, o ultraliberal Javier Milei, candidato presidencial pelo partido A Liberdade Avança, fez ataques aos dois maiores parceiros comerciais do seu país, o Brasil e a China, e assegurou que, em um eventual governo seu, o país se afastaria de ambos por questões ideológicas.

A matéria publicada nesta quarta-feira (16/08) pelo site norte-americano Bloomberg mostra um Milei falando claramente em “cortar relações com a China”, devido ao fato de que o país asiático é governado pelo Partido Comunista.

“As pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem, e se o fazem, são mortas (…) você negociaria com um assassino?”, questionou o candidato presidencial argentino.

Entretanto, Milei garantiu que vai respeitar os contratos já assinados com empresas do país asiático, que incluem a construção de duas barragens na Patagônia e uma usina nuclear.

A China é o segundo maior parceiro comercial da Argentina, além de ter se tornado recentemente um aliado estratégico, após ter concedido ao país sul-americano um swap de US$ 18 bilhões, com o qual Buenos Aires conseguiu saldar parte da sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) – adquirida em 2018, durante o governo do também liberal Mauricio Macri.

Brasil e Mercosul

O maior parceiro comercial da Argentina tampouco ficou isento de críticas por questões ideológicas. Para Milei, o Brasil, a partir do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou um país “socialista”. Vale lembrar que, apesar de algumas diferenças conceituais, o ultraliberal é amigo e aliado regional da família Bolsonaro – em especial do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), terceiro filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na entrevista, o candidato vencedor das primárias argentinas disse que não dará prioridade aos “sócios socialistas”, termo no qual enquadrou não só o Brasil de Lula, como também o México (do presidente Andrés Manuel López Obrador), o Chile (de Gabriel Boric) e a Colômbia (de Gustavo Petro).

O Chile é o quarto maior parceiro comercial da Argentina, enquanto México e Colômbia estão entre os 20 mais importates.

Brics

Outro alvo de Milei foi o Mercosul. O candidato insinuou que, se for presidente, poderia retirar o país do bloco, que ele descreveu como “uma união alfandegária de baixa qualidade, que gera distorções comerciais e danos aos seus membros”.

O ultraliberal também disse que um governo seu levaria a Argentina a se afastar do Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O atual governo do país, liderado por Alberto Fernández, solicitou o ingresso ao Brics meses atrás. O pedido deve ser um dos que será analisado na próxima cúpula do bloco, que se realizará a partir da próxima terça-feira (22/08), na cidade sul-africana de Johanesburgo.

Estados Unidos

Para finalizar, o candidato da extrema direita argentina prometeu incrementar os laços com os Estados Unidos, e que trabalharia com qualquer presidente norte-americano que seja eleito nas eleições de 2024.

“Pode ser que eu goste mais do perfil dos republicanos do que dos democratas, mas isso não significa que não considere os Estados Unidos como nosso principal parceiro estratégico”, afirmou Milei.