Por que o Ocidente não deveria fazer dos crescentes gastos militares da China um problema

O desejo da China de aumentar seu orçamento de defesa está estritamente sincronizado com o status internacional de um país que luta pela paz e estabilidade global, disse o analista político da Universidade de Pequim, Zhou Rong, à Sputnik.

Pequim vai aumentar seus gastos militares em 7,2% neste ano, até 1,5 trilhão de yuans (cerca de R$ 1,1 trilhão), de acordo com o projeto de orçamento apresentado na recente sessão anual do Congresso Popular Nacional da China. O projeto de orçamento especifica que os gastos com a defesa nacional da China em 2022 totalizaram aproximadamente 1,4 trilhão de yuans (cerca de R$ 1,08 trilhão).

O documento aponta para a necessidade de promover a modernização da defesa nacional e das forças armadas, aprimorar o poder do Estado no campo da ciência e da tecnologia de defesa e apoiar a criação de mais fortes capacidades de defesa nacional e um poder militar mais pujante.

“Alguns países ocidentais, preocupados com o crescente orçamento de defesa da China, devem ser lembrados de que os gastos militares da República Popular da China [RPC] são apenas um quarto do dos EUA. O orçamento de defesa da China equivale a cerca de 1,5% de seu produto interno bruto [PIB], a menor participação entre as principais economias do mundo”, disse Zhou.

Ele acrescentou que os EUA e alguns de seus aliados ocidentais “continuam a fazer do crescente orçamento de defesa chinês um problema“.

O analista lembrou que esses próprios países aumentaram significativamente seus gastos militares com base no “fornecimento de ajuda militar a Kiev” em meio ao conflito da Ucrânia. Desde o início da operação militar especial russa no país, os EUA enviaram mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 517,6 bilhões) em assistência militar a Kiev, com Moscou alertando repetidamente que essas ações prolongam o conflito da Ucrânia.

Zhou também lembrou que os dois vizinhos imediatos da China, Japão e Índia, também aumentaram seus gastos militares consideravelmente, com sua taxa de crescimento orçamentário de defesa atualmente excedendo a de Pequim.

O analista elogiou a China como “uma força importante” para ajudar a manter “a paz e estabilidade global”, uma missão que de acordo com Zhou estipula a necessidade de Pequim fortalecer suas próprias capacidades de defesa definitivamente.

“Um aumento nos gastos militares da China está alinhado com o status internacional do país e o nível de sua responsabilidade global como uma grande potência. Ao mesmo tempo, a China detesta flexionar seus músculos militares em relação aos seus vizinhos imediatos e ao resto do mundo”, enfatizou Zhou.

O especialista sugeriu que, no futuro, a China “continuará aumentando seu orçamento de defesa“, um processo que ele disse, em particular, dependeria de ameaças e desafios externos que Pequim pode vir a enfrentar, incluindo aqueles relacionados a Taiwan e ao mar do Sul da China.

As tensões entre a China e Taiwan espiralaram no ano passado, após uma enxurrada de viagens à ilha por autoridades norte-americanas e europeias. A China, que vê Taiwan como uma parte essencial do continente, criticou as visitas como uma demonstração de apoio à independência de Taiwan e tem conduzido missões de observação e reconhecimento diários sobre as águas da ilha.

Separadamente, Pequim permanece envolvida em uma disputa prolongada com Washington e vários países da Ásia-Pacífico sobre o status territorial das ilhas no mar do Sul da China, onde os EUA geralmente conduzem missões de “liberdade de navegação”.