A pedido da força-tarefa do Ministério Público (MP) de São Paulo, a Polícia Civil abriu o segundo inquérito para investigar a Prevent Senior por suspeita de falsificação nas certidões de óbitos do médico pediatra Anthony Wong e da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang. O primeiro inquérito da polícia já investigava a rede operadora de plano de saúde principalmente por homicídio. Os alvos dos dois inquéritos são diretores e médicos da empresa.
Wong e Regina morreram no início deste ano em decorrência da Covid, mas essa informação foi omitida da causa da morte em seus documentos. Eles estavam internados no Hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
A operadora é investigada pelo Ministério Público estadual por suspeita de distribuir o “kit Covid” para prevenção e tratamento da doença. Os medicamentos, no entanto, não têm comprovação científica contra o coronavírus.
Dois inquéritos
O primeiro inquérito da Polícia Civil contra a Prevent Senior está com o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e também foi pedido pela força-tarefa do MP. Ele foi aberto na semana passada.
O segundo inquérito foi aberto recentemente pela Polícia Civil, a pedido da Promotoria de Saúde Pública, que também integra a força-tarefa do MP-SP. O 77º Distrito Policial (DP), na Santa Cecília, no Centro da capital paulista, investiga se a Prevent Senior cometeu o crime de falsidade ideológica por não mencionar a Covid nos atestados de óbito de Wong e Regina.
A Promotoria de Saúde apura na área cível o crime de dano moral coletivo contra a Prevent Senior. Ela pretende entrar com uma ação na Justiça para pedir indenização aos pacientes com Covid e às famílias de pessoas que morreram com a doença depois usaram o “kit Covid”. Já foi comprovado cientificamente que ele é ineficaz no combate ao coronavírus.
Na semana que vem, a Promotoria de Saúde quer sugerir aos diretores da Prevent Senior um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para que eles e seus médicos deixem de dar o “kit Covid” a seus pacientes.
O segundo inquérito da Polícia Civil sobre a Prevent Senior irá subsidiar a Promotoria de Saúde na apuração contra a operadora. “Nossa apuração se limita a adulteração desses dois documentos [de Wong e Regina]”, disse nesta quinta-feira (30) ao g1 a delegada Maria Cecília Castro Dias, do 77º DP.
Segundo a delegada, o Instituto Médico Legal (IML) vai analisar a documentação de Wong e Regina e emitir um parecer técnico sobre as causas de suas mortes.
“A gente está juntando toda parte documental para passar na perícia médico-legal. E depois questionar os médicos sobre essa eventual omissão que foi confirmada pelos exames iniciais”, disse Maria Cecília.
Wong morreu em 15 de janeiro. Ele tinha 73 anos. Na sua certidão de óbito, consta que o pediatra morreu de choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus, e não faz menção ao coronavírus.
O óbito de Regina foi em 4 de fevereiro. Estava com 82 anos. No documento sobre a morte dela, a Prevent também não menciona a Covid: disfunção múltipla de órgãos, choque distributivo refratário, insuficiência renal crônica agudizada, pneumonia bacteriana, síndrome metabólica e acidente vascular cerebral isquêmico prévio.
Foi o filho dela, Luciano Hang, que chegou a divulgar que a mãe tinha morrido por causa do coronavírus.
Na quarta-feira (29), o empresário falou à CPI da Covid que teve a informação de que algum funcionário da Prevent Senior havia errado o preenchimento da causa da morte de sua mãe. Ele é investigado por suspeita de financiar sites que divulgam fake news sobre a pandemia. Luciano é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Quando a descoberta das omissões nas certidões de Wong e Regina foram divulgadas na semana passada pela GloboNews, a Prevent Senior havia informado que “limitações éticas e legais não pode fornecer ou confirmar informações de pacientes e de seus parentes”.
A delegada aguarda, no entanto, o recebimento da documentação médica deles pelos órgãos oficiais. “Fizemos uma representação solicitando a cópia integral dos prontuários, que são documentos sigilosos, e assim que a gente receber são encaminhados para o IML.”
Além dos médicos, os policiais do 77º DP pretendem ouvir os parentes de Wong e Regina Hang. Caso algum deles more em outra cidade ou estado, deverá ser ouvido por carta precatória.
1º inquérito
O primeiro inquérito contra a Prevent Senior foi aberto na semana passada pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). E também atendeu a um pedido da força-tarefa do Ministério Público.
O DHPP investiga também o crime de falsidade ideológica contra a operadora, mas o foco da apuração será saber se a Prevent Senior cometeu homicídio ao dar aos pacientes remédios ineficazes contra a Covid. Além de Wong e Hang, há relatos de que mais pessoas morreram após usarem o “kit Covid”. E os policiais vão investigar se esses óbitos foram criminosos ou naturais.
Outro crime correlato ao homicídio que é investigado pela 1ª Delegacia de Proteção à Pessoa do DHPP é o de omissão de notificação às autoridades. Ele também diz respeito à omissão de dados verdadeiros sobre as causas das mortes dos pacientes.