O que fez da China uma potência olímpica?

Créditos: Fotomontagem (Xinhua) - Time da China encerra melhor participação em uma Olimpíada em Paris.

Durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024 encerrados neste domingo (11) a equipe da China conquistou o segundo lugar no quadro de medalhas, o melhor desempenho da história do país nas Olimpíadas: 40 medalhas de ouro, 27 de prata e 24 de bronze. Em primeiro lugar, os EUA conquistaram 126 medalhas, 40 ouros, 44 pratas e 42 bronzes.

Nos últimos anos, a China tem se destacado como uma potência no cenário esportivo mundial, refletindo em suas participações nas Olimpíadas. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, a equipe chinesa conquistou 38 medalhas de ouro, 32 de prata e 18 de bronze e ficou entre as três principais nações no quadro de medalhas por seis edições consecutivas dos Jogos.

O desempenho olímpico da China é uma das provas do sucesso da modernização chinesa, que vai além do crescimento econômico e beneficia o desenvolvimento da saúde pública e o ambiente para as indústrias esportivas, energizando efetivamente o “esporte para todos”.

Essa é a razão central pela qual tantos jovens atletas talentosos têm emergido continuamente da população de 1,4 bilhão de pessoas da China nas últimas décadas, e eles também conseguem quebrar recordes mundiais em esportes que foram dominados pelos EUA e outros países ocidentais por muito tempo.

Maturidade do público chinês

O comentarista esportivo Ming Jinwei comentou com o jornal chinês Global Times que, ao assistir aos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o público chinês tem se tornado mais racional e maduro na compreensão do desempenho dos atletas chineses nas competições olímpicas. 

Mais importante ainda, cada vez mais chineses têm aprendido que alguns países ocidentais, especialmente os EUA, valorizam muito o quadro de medalhas e usarão todas as ferramentas que têm para ganhar medalhas, incluindo o doping, que foi exposto pela mídia. 

Competição em tempos de paz

Os EUA também usam sua influência na mídia e em organizações internacionais para estigmatizar e adicionar obstáculos a países que possam desafiá-los no quadro de medalhas.

Isso faz com que os chineses entendam claramente a natureza dos esportes internacionais – trata-se de uma competição das forças nacionais dos países em tempos de paz, e eles não ficarão apenas observando alguns países manipularem as Olimpíadas de maneira injusta. 

Nesse contexto competitivo, os torcedores chineses vão apoiar a China para competir não apenas nas arenas, mas também em outras frentes e áreas relevantes para garantir que as regras dos Jogos Olímpicos e outros esportes internacionais permaneçam justas e limpas.

Ming observou ainda que ganhar medalhas de ouro olímpicas não é apenas motivo de orgulho para um atleta ou equipe, mas também prova da força nacional abrangente de um país e da capacidade esportiva de uma nação. 

Modernização, economia e população

Outro comentarista esportivo ouvido pelo Global Times foi Li Xiang, que cobriu os Jogos de Paris 2024. Ele observou que alguns países também têm grandes populações e são grandes economias globais, mas ganharam poucas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos.

Isso porque tamanho econômico e população não são iguais à modernização. O desempenho da equipe chinesa nas últimas décadas é prova de uma modernização chinesa bem-sucedida.

Fazendo história

Contando desde a primeira medalha de ouro olímpica da China em 1984, graças à habilidade de tiro de Xu Haifeng, a China ultrapassou com sucesso a marca de 300 medalhas de ouro em Paris. Nos últimos 40 anos, os esportes chineses evoluíram de conquistas ocasionais de destaque para se tornarem uma potência indiscutível no esporte global.

O vice-chefe da delegação chinesa, disse Zhou Jinqiang, celebrou o resultado do time durante uma coletiva de imprensa em Paris neste domingo (11).

Zhou também observou que os atletas chineses, tanto durante as competições quanto ao interagir com a mídia, exibiram graça, simpatia natural e um evidente amor pelo seu país e orgulho de serem chineses.

Avanços históricos foram feitos pelos atletas chineses nas Olimpíadas de Paris em esportes como tênis, nado artístico, ginástica rítmica e ciclismo BMX.

Os nadadores chineses, que competiram sob um regime rigoroso de testes antidoping após a pressão das hipóteses levantadas pelos EUA, conquistaram um total de duas medalhas de ouro, três de prata e sete de bronze nas Olimpíadas de Paris. 

Um dos destaques na piscina foi o revezamento medley 4x100m masculino, quando a equipe chinesa quebrou a hegemonia dos EUA na disciplina, que durava 40 anos. A vitória histórica foi uma poderosa resposta às dúvidas e desconsiderações que pairavam sobre a equipe de natação chinesa em Paris.

A medalhista de ouro no tênis feminino, Zheng Qinwen, de 21 anos, aconselhou as pessoas a se atreverem a sonhar, pois isso pode impulsionar o esforço por sucessos futuros após sua vitória épica em Roland Garros. Zheng é a primeira atleta asiática a ganhar uma medalha de ouro olímpica no tênis individual.

A ciclista de BMX estilo livre de 18 anos, Deng Yawen, destacou que seu orgulho e confiança se solidificaram ao ouvir o hino nacional na cerimônia de premiação, após conquistar a primeira medalha de ouro da China no ciclismo BMX.

Atletas da geração Z chinesa, como a estrela do tênis de mesa Sun Yingsha e a medalhista de prata no badminton, He Bingjiao, também contribuíram com momentos de esportividade encantadores, como tirar selfies com atletas da Coreia do Norte e do Sul, e levar um pin da Espanha ao pódio para mostrar respeito à jogadora de badminton espanhola ferida.

Planejamento estatal

As conquistas olímpicas da China são resultado de um planejamento estratégico meticuloso, como delineado no 14º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento do Esporte (2021-2025), que visa transformar a China em uma nação forte em esportes até 2035.

O plano quinquenal destaca a importância de uma abordagem coordenada que engloba o desenvolvimento de talentos, inovação tecnológica, expansão da infraestrutura esportiva e promoção de esportes em massa.

O sucesso chinês nas Olimpíadas também é impulsionado por uma política nacional que integra esporte e educação, promovendo a participação juvenil e o desenvolvimento de novas gerações de atletas.

Além de se consolidar em esportes tradicionais, a China tem investido significativamente em esportes de inverno, especialmente com a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, o que reforça sua ambição de se tornar uma potência em diversas modalidades esportivas.

O governo chinês continua a implementar reformas e inovações para garantir que o país não só mantenha, mas também expanda sua influência no cenário esportivo global, utilizando o esporte como uma ferramenta crucial para o renascimento nacional e a promoção do soft power cultural no mundo.

Com uma infraestrutura robusta e um sistema de treinamento científico avançado, a China se prepara para futuras competições internacionais, incluindo as próximas Olimpíadas, onde pretende manter sua posição de liderança e alcançar novos patamares de excelência esportiva.

Projetos estratégicos para o esporte

O 14º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento do Esporte (2021-2025) da China inclui uma série de projetos estratégicos voltados para transformar o país em uma potência esportiva global. Confira alguns:

  1. Projeto de Integração entre Educação e Esporte: Visa aprofundar a integração entre educação e esporte, promovendo a saúde e o desenvolvimento esportivo dos jovens, com o objetivo de criar 80.000 escolas de esportes tradicionais até 2025.
     
  2. Projeto de Treinamento de Talentos Esportivos de Reserva: Foca no fortalecimento das escolas de esportes e organizações sociais para o treinamento de jovens talentos esportivos, além de desenvolver centros de treinamento juvenil.
     
  3. Projeto de Melhoria da Indústria de Competições Esportivas: Tem como meta criar 100 marcas de competições esportivas com propriedade intelectual própria e apoiar a introdução de 100 eventos esportivos internacionais de alta qualidade.
     
  4. Projeto de Desenvolvimento de Esportes Profissionais: Envolve o planejamento abrangente do desenvolvimento dos esportes profissionais, incluindo a criação de ligas profissionais e a profissionalização de várias modalidades esportivas.
     
  5. Projeto de Construção Esportiva Digital: Promove a transformação digital das instalações esportivas e a criação de uma rede de serviços de informações sobre condicionamento físico, entre outros desenvolvimentos digitais no setor esportivo.

Esses projetos fazem parte de uma estratégia abrangente para elevar o nível dos esportes na China, melhorar a infraestrutura esportiva e fortalecer a formação de atletas e talentos esportivos.

Investimentos robustos em esportes

O 14º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento do Esporte (2021-2025) da China também menciona valores específicos de investimento, incluindo a meta de alcançar uma escala total da indústria esportiva de 5 trilhões de yuan até 2025 (equivalente a 700 bilhões de dólares e 3,35 trilhões de reais).

Além disso, o consumo esportivo dos residentes é projetado para superar 2,8 trilhões de yuan (equivalente a 392 bilhões de dólares e 1,876 trilhões de reais), e o setor deve empregar mais de 8 milhões de pessoas.

Ao comparar os investimentos em esportes pela China e Estados Unidos – as duas principais potências – e os do Brasil podemos notar que há diferenças significativas, com abordagens e estrutura de financiamos muito distintas.

A  China tem investido maciçamente em esportes como parte de sua estratégia de desenvolvimento nacional que reflete o compromisso do país em se tornar uma potência esportiva global, integrando esporte e desenvolvimento econômico e promovendo a participação em massa em atividades esportivas.

Os EUA têm uma abordagem diferente, com grande parte do financiamento esportivo vindo do setor privado, incluindo patrocínios, doações e receitas de direitos de mídia. O Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA (USOPC, da sigla em inglês) é uma entidade privada que arrecada fundos para apoiar os atletas. 

Entre 2017 e 2021, o USOPC destinou aproximadamente 2,3 bilhões de dólares para apoiar a preparação dos atletas olímpicos e paralímpicos. Ao contrário da China, que depende de investimentos estatais maciços, o modelo dos EUA é altamente descentralizado, com forte ênfase em patrocinadores e financiamento privado.

Já o Brasil investe em esportes principalmente por meio de programas governamentais como o Bolsa Atleta, que em 2024 destinou cerca de 160 milhões de reais para apoiar atletas olímpicos e paralímpicos. 

Além disso, as Forças Armadas brasileiras desempenham um papel significativo no apoio a atletas de alto desempenho, investindo cerca de R$ 6 milhões por ano no Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), que é responsável por um terço da delegação brasileira nas Olimpíadas. 

Embora o Brasil tenha feito progressos em termos de investimentos, especialmente após sediar os Jogos Olímpicos de 2016, os recursos ainda são limitados em comparação com outras nações.

  • China: Investe diretamente bilhões de dólares através de um plano governamental centralizado, com um forte foco em infraestrutura, massificação do esporte e modernização.
     
  • EUA: O financiamento é descentralizado e altamente dependente de patrocínios privados, com o USOPC atuando como principal fonte de recursos, arrecadando bilhões de dólares através de parcerias privadas.
     
  • Brasil: Conta com financiamento governamental, especialmente através de programas como o Bolsa Atleta e apoio das Forças Armadas, mas com recursos relativamente menores.

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