Em uma análise contundente neste domingo, o economista e professor Richard Wolff afirmou que as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra a Rússia falharam completamente, gerando consequências inesperadas que estão fortalecendo países como China e Índia. Em uma entrevista ao canal Democracy at Work, Wolff abordou questões relacionadas ao seu mais recente livro, Understanding Capitalism, e refletiu sobre os erros cometidos pelos EUA ao lidar com a economia russa e os efeitos dessas políticas no cenário global.
“Se o objetivo era destruir a Rússia ou sua moeda, essas sanções falharam”, disse Wolff, sublinhando que o país conseguiu contornar boa parte das restrições com a ajuda de aliados estratégicos, como China e Índia. “A guerra, por sua vez, serviu como um estímulo para a economia russa, algo que já vimos acontecer antes, inclusive nos Estados Unidos”, comentou.
Wolff explicou que a intenção das sanções era causar um colapso econômico, provocando instabilidade política interna. Contudo, o resultado foi o oposto. “A economia russa não só sobreviveu, como se reorganizou internamente. Além disso, países dos BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — estão oferecendo suporte econômico, o que está minando os efeitos das sanções.”
A ascensão dos BRICS é outro ponto central na análise de Wolff, que vê a coalizão como um novo polo econômico global, especialmente no contexto do declínio da hegemonia dos EUA. “Os BRICS oferecem uma alternativa ao modelo econômico dominado pelos EUA e Europa, e isso se reflete no aumento das trocas comerciais entre esses países sem o uso do dólar como moeda de referência”, explicou. “Com isso, o que vemos é a lenta desdolarização da economia mundial, algo que as elites americanas não previram ou simplesmente ignoraram.”
As tarifas e o impacto no dólar
Outro ponto abordado por Wolff foi o uso crescente de tarifas pelos Estados Unidos como uma forma de “guerra econômica”. Durante o governo de Donald Trump, tarifas pesadas foram impostas em produtos chineses, incluindo carros elétricos e painéis solares, numa tentativa de proteger as indústrias americanas. Segundo Wolff, essas tarifas prejudicaram mais os consumidores e empresas americanas do que seus rivais estrangeiros. “Impor tarifas a produtos estrangeiros é o mesmo que cobrar impostos dos próprios cidadãos”, destacou. “O que os consumidores dos EUA estão pagando em carros, painéis solares e outros produtos aumentou significativamente devido a essas políticas.”
Wolff ainda enfatizou que a ameaça de aumentar as tarifas contra países que optarem por “desdolarizar” suas economias, uma promessa feita por Trump, é uma resposta desesperada à perda de controle econômico global pelos EUA. “Essa tática só isola os Estados Unidos ainda mais”, afirmou Wolff. “O mundo está se movendo em outra direção, especialmente com o fortalecimento dos BRICS.”
A entrevista tocou também em uma questão estratégica fundamental: o declínio do império econômico dos EUA e a transição para um mundo onde a Ásia, liderada por China e Índia, emerge como o novo centro do capitalismo global. “Os EUA estão enfrentando dificuldades para aceitar essa realidade. O poder econômico, que antes estava no Ocidente, está se movendo para o Oriente, e isso é algo que não será revertido com sanções ou tarifas.”
O futuro incerto
A análise de Richard Wolff aponta para um futuro de maior polarização entre as potências ocidentais e os países emergentes. “Estamos vendo o fim do império americano, algo que será lembrado por gerações”, previu Wolff, comparando a situação atual com a derrocada de impérios passados. “A incapacidade de entender as dinâmicas econômicas do mundo moderno é o que está levando os EUA a cometer esses erros monumentais.”
Com o aumento das tensões globais, o cenário delineado por Wolff parece indicar que o Ocidente terá que se ajustar a uma nova realidade em que não mais detém o controle absoluto das regras econômicas globais. Os BRICS, por sua vez, parecem prontos para capitalizar essa oportunidade e continuar expandindo seu papel no comércio global, fora da órbita do dólar. Como o professor afirmou: “O sistema que os EUA estão tentando preservar está desmoronando, e as tarifas só aceleram esse processo.”