O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, realizou nesta segunda-feira (15) seu discurso de Memória e Conta na Assembleia Nacional. O ato ocorre anualmente e funciona como uma prestação de contas do Executivo ao Legislativo do país.
Os temas econômicos e de política externa dominaram a fala do mandatário, que disse que a Venezuela superou os 5% de crescimento no PIB no ano de 2023 e anunciou um aumento dos auxílios pagos pelo governo aos venezuelanos, que agora devem chegar a US$ 100 (cerca de R$ 490). “Foi o maior crescimento da Américas Latina e do Caribe, outra conquista alcançada nos tempos de bloqueio”, disse.
Os dados de crescimento apresentados pelo presidente superam os estimados pela Cepal no último trimestre do ano passado, que previam um crescimento de 3,2% no PIB venezuelano em 2023.
Apesar de se mostrar otimista com os índices, Maduro destacou os impactos das sanções dos Estados Unidos (EUA) contra a indústria petroleira que, segundo ele, fizeram com que o país deixasse de “produzir 3,9 bilhões de barris de petróleo e deixasse de receber 323 bilhões de dólares”.
O presidente ainda afirmou que as perdas totais da economia venezuelana, nos setores público e privado, entre 2015 e 2022 foram de 642 bilhões de dólares. “Um genocídio, um massacre econômico”, classificou Maduro.
“Por isso que cada resultado obtido, cada meta cumprida deve ter a etiqueta [com os dizeres] feito, construído, desenhado, criado, superado em tempos de guerra e de bloqueio imperialista”, disse.
Inflação, câmbio e salário
Todo esse cenário de crise descrito por Maduro vem impactando a vida dos trabalhadores venezuelanos desde o início da recessão, em 2014. As perdas no setor petroleiro e a crise na arrecadação de divisas levou o país a uma espiral de hiperinflação que só foi contida no início de 2022.
Apesar disso, o aumento nos preços continua a prejudicar milhões de venezuelanos que recebem seus salários na moeda nacional, o bolívar, constantemente desvalorizado pelo câmbio.
“A inflação é o primeiro inimigo a derrotar em qualquer economia”, disse Maduro. “Na nossa economia, bloqueada e perseguida, além de ser uma tarefa prioritária é a mais difícil, toda vez que as sanções criminosas operam diretamente contra a geração de renda do país”, afirmou.
Apesar disso, o mandatário disse que a inflação de dezembro foi de 2,4%, o índice mais baixo de 2013.
Frente ao quadro inflacionário, o governo vem enfrentando pressões para um aumento de salário real que seja indexado ao dólar, moeda na qual a maioria dos preços são expressados no país desde 2020. O Executivo, no entanto, tem sido cauteloso com o tema da liquidez, pois teme uma nova disparada cambial.
O último aumento do salário mínimo ocorreu em 2022 e, desde então, o valor de 130 bolívares hoje está em cerca de 3 dólares.
O presidente, no entanto, anunciou nesta segunda-feira um aumento nos auxílios oferecidos pelo governo aos venezuelanos. O vale alimentação continuará em 40 dólares e o chamado “bônus de guerra econômica” foi a 60 dólares, totalizando US$ 100. Os valores serão indexados à moeda estadunidense e serão pagos além dos salários.
“Em 2023, nosso país teve o menor aumento do dólar desde que foram criadas as mesas de câmbio [fim do controle cambial, em 2020]. Esse comportamento é alentador e nos permitirá, neste ano, consolidar a estabilidade para baixar ainda mais a inflação”, prometeu Maduro.
Golpes, Brics e Palestina
O presidente ainda afirmou que durante 2023 as forças de segurança venezuelanas desmontaram quatro tentativas de golpes de Estado contra seu governo em maio, agosto, novembro e dezembro, “planejadas em Miami e na Colômbia”.
“Estou entregando ao doutor Jorge Rodríguez [presidente do Legislativo] um relatório completo e os materiais de desmontagem de quatro conspirações durante 2023 que foram mantidas em silêncio”, disse Maduro.
No âmbito da política externa, o presidente reafirmou o desejo da Venezuela de entrar no Brics e classificou o grupo como “uma aliança vital”. “Fomos convidados para a cúpula do Brics na Rússia e temos a aspiração certa de que a Venezuela, em 2024, entrará pela porta grande nos Brics”, disse.
Maduro também aproveitou para condenar os ataques de Israel na Faixa de Gaza que já mataram mais de 23 mil pessoas, cuja maioria são mulheres e crianças. O mandatário se somou aos pedidos de cessar-fogo e pediu o fim dos assassinatos na região.