O presidente Lula é o mandatário brasileiro que mais se ausentou do país no início de seu mandato, de acordo com levantamento do portal UOL. O presidente passou, em média, um em cada sete dias de seu mandato no exterior.
Os dados apontam que Lula ficou 19 dias fora do país nos seus primeiros 126 dias de terceiro mandato, comparados aos 11 dias para o primeiro mandato de Dilma Rousseff e 14 de seu antecessor, Jair Bolsonaro.
Os destinos escolhidos pelo presidente até agora foram Argentina, China, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, Portugal, Reino Unido e Uruguai. Recém-chegado a Brasília após viagem a Londres, o presidente deve embarcar para o Japão no dia 20 de maio, para participar da cúpula do G7.
Para o analista de Relações Internacionais e mestre pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (PUC-SP/UNICAMP/UNESP) Maurício Doro, Lula segue a tradição de enfatizar a diplomacia presidencial brasileira.
“Desde o governo Fernando Henrique Cardoso [FHC], temos uma atuação preponderante do chefe de Estado na arena internacional, o que até então era anormal para o Brasil”, disse Doro à Sputnik Brasil. “Essa tendência é acentuada nos mandatos Lula 1 e 2, e somente atenuada por Dilma […] em função da instabilidade política interna.”
A atuação ativa dos presidentes brasileiros é regularmente alvo de críticas da grande mídia e de parte da sociedade civil, que apontam para os custos destas viagens ao erário público.
A agenda internacional intensa do então presidente Fernando Henrique Cardoso lhe rendeu a alcunha de “Viajando Henrique Cardoso”. Já a aeronave adquirida por Lula para realizar suas visitas de Estado recorrentes, o AC19CJ, foi apelidado de “AeroLula”.
Neste sábado (6), a emissora de TV Bandeirantes teve que se retratar após divulgar informação incorreta sobre o preço da diária do hotel no qual o presidente e a primeira-dama se hospedaram em Londres, para acompanhar a coroação do rei Charles III. A emissora afirmou que a suíte custaria R$ 97 mil aos cofres públicos, enquanto na verdade o valor era de cerca de R$ 37 mil.
Para Doro, os custos com as viagens internacionais dos presidentes brasileiros não deveriam ser encarados como gastos públicos, mas sim como investimentos.
“Temos um papel acelerado do próprio presidente e do Itamaraty para reconstruir a imagem do país no exterior, então não estamos falando de gastos desnecessários, mas de investimentos que proporcionarão ganhos efetivos para a sociedade brasileira”, acredita Doro.
O especialista aponta para os recentes anúncios de líderes europeus e do presidente dos EUA, Joe Biden, de recursos para o Fundo Amazônia como retornos obtidos pelas viagens de Lula.
Especialistas também apontam que a nomeação de um chanceler de perfil discreto para liderar o Itamaraty, Mauro Vieira, poderia estar sobrecarregando a agenda internacional do presidente.
“Não acho que o Lula viajaria menos caso tivesse um outro chanceler, porque há uma opção pela diplomacia presidencial”, opinou Doro. “Mesmo no período do Celso Amorim, o Lula fazia viagens de forma recorrente.”
Por fim, há preocupação quanto as viagens de Lula em momento crítico para consolidação de sua autoridade no Brasil. Para muitos, o destaque que políticos experientes como Arthur Lira podem ganhar quando o presidente se ausenta deve ser integrado no cálculo do Palácio do Planalto.
“Essa é sempre uma questão complicada, mas me parece que as instituições estão resguardadas e as viagens do presidente não colocam em risco a democracia”, concluiu o especialista.