A chinesa Huawei já negocia com praticamente todas as operadoras a venda de equipamentos de 5G para as redes que terão de prestar o serviço nas capitais do país até julho de 2022.
Com a ameaça de banimento do mercado brasileiro praticamente afastada pelo governo Jair Bolsonaro, a maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo conta agora com uma ajuda: a crise hídrica.
Como a escassez de água fez o preço da energia elétrica atingir um dos patamares mais elevados, a Huawei se tornou um importante atrativo para Claro, Vivo e Tim, principais vencedoras do leilão da telefonia de quinta geração concluído no dia 5 de novembro.
Isso porque, embora o preço dos equipamentos da gigante chinesa não seja tão mais barato que o das concorrentes Ericsson e Nokia, o custo de manutenção chega a cair 40%.
Pessoas que participam das negociações afirmam que, somente no quesito economia de energia, o custo final da operação de 5G sairá 30% mais barato com Huawei do que de qualquer outro fornecedor.
Até mesmo a Tim, que dentre as três principais do setor é a que possui menos equipamentos Huawei na rede, decidiu avaliar o fechamento de contratos.
Ao menos três das seis novatas estudam projetos de rede com a chinesa. Essas novas operadoras venceram o leilão arrematando blocos regionais de 5G.
A Algar, que está ampliando a área de atuação incluindo o Centro-Oeste, é uma delas. No passado, a empresa, que atua somente em uma área compreendida por municípios do triângulo mineiro, Goiás e São Paulo, foi a primeira a fechar um contrato com a Huawei. Praticamente toda sua rede é dotada de produtos da gigante chinesa, que produz no país há 22 anos.
Agora a fabricante aguarda a decisão do governo federal em torno dos critérios a serem adotados na construção de sua rede privativa.
A Huawei deverá ficar fora da construção dessa rede fechada (que será fixa e móvel em 4G).
Esse projeto será financiado pelas vencedoras do leilão (em faixas de cobertura 5G nacional) —contrapartida de investimento que foi descontado do preço das licenças.
O leilão do 5G movimentou R$ 47,4 bilhões, mas os lances ficaram em R$ 7,5 bilhões, considerando os investimentos atrelados às licenças e que foram descontados. Por isso, o leilão não foi arrecadatório.
Essa rede privativa do governo foi uma das contrapartidas e funcionou como saída encontrada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, para convencer Bolsonaro e a ala militar ideológica do governo a não impor restrições à Huawei.
Essa ameaça existiu durante o governo do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e no atual governo de Joe Biden, que tentaram —de formas diferentes— convencer países alinhados estrategicamente a bloquear a Huawei.
A empresa foi escolhida como alvo de uma disputa geopolítica entre EUA e China.
Sem sucesso, a estratégia dos americanos é estimular o crescimento de redes abertas de 5G (conhecidas como Open RAN), com farta oferta de soluções de Ericsson e Nokia, para neutralizar o avanço da Huawei, que não investe nesse tipo de solução.
A atuação de Faria, que defendia a realização do leilão neste ano apesar da resistência das teles, foi fundamental para garantir a atuação da Huawei no mercado nacional.
Apesar de sua pressão para liberar o leilão neste ano com a obrigação de que o serviço tenha início em julho do próximo ano, os pacotes para o consumidor final deverão custar muito caro.
Faltam aparelhos no mercado e os disponíveis giram em torno de US$ 1.000, segundo representantes das operadoras que agora trabalham na viabilidade de planos.
A instalação das antenas e fibras ópticas, necessárias para a largada das novas redes de quinta geração, enfrentará lacunas diante da falta de leis municipais para obras de telecomunicações. Embora haja uma Lei Geral de Antenas, de cunho nacional, cada cidade precisa regulamentá-la com uma lei própria.
Levantamento feito pela Conéxis, a associação que representa as operadoras, mostra que somente 7 dentre os mais de 5.500 municípios do país possuem essa regulamentação. São eles Boa Vista, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Palmas, Porto Alegre e Porto Velho.
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte têm projetos em tramitação nas câmaras municipais.
Inicialmente, as teles estimavam que os pacotes pudessem custar até 25% mais que os atuais planos de ponta do 4G. Mas a crise econômica, que compromete a renda e o poder de compra dos brasileiros, deve levar as empresas a cortar ao máximo os custos para oferecerem preços mais atrativos. Só assim será possível dar a largada do 5G no próximo ano.
A viabilidade comercial dessa nova tecnologia ainda não foi testada na prática e há preocupação de que o preço elevado seja um impeditivo para a massificação do serviço.
Projeções iniciais da área técnica da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) apontam que a venda de pacotes 5G só terá sucesso em cerca de 60 cidades do país.