China expressa profundas preocupações com a escalada de conflitos no Oriente Médio

Créditos: Fotomontagem (Wikipedia) - Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei]; presidente da China, Xi Jinping; e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

Ministério das Relações Exteriores chinês se pronuncia sobre tensões na região; confira o histórico do posicionamento de Pequim sobre o tema e as relações sino-israelenses e sino-iranianas

A China está profundamente preocupada com a turbulência no Oriente Médio. Diante da escalada das tensões na região, com a invasão terrestre lançada por Israel no sul do Líbano e o ataque militar deflagrado pelo Irã contra o território israelense, o Ministério de Relações Exteriores chinês divulgou um comunicado nesta quarta-feira (2).

A declaração destaca que a China se opõe à violação da soberania, segurança e integridade territorial do Líbano, e também a qualquer movimento que aumente antagonismos e eleve as tensões.

O comunicado fez um apelo à comunidade internacional, especialmente aos grandes países com influência, para desempenharem um papel construtivo e evitarem mais instabilidade.

O governo chinês acredita que os combates prolongados em Gaza são a causa principal da atual onda de agitação no Oriente Médio, e que todas as partes envolvidas devem trabalhar urgentemente para um cessar-fogo abrangente e duradouro.

“Nós nos opomos à violação da soberania, segurança e integridade territorial do Líbano e condenamos ações que aumentem a hostilidade e escalem as tensões. A China apela à comunidade internacional, especialmente aos principais países com influência, para que desempenhem um papel construtivo e evitem mais turbulência. A China acredita que os combates prolongados em Gaza são a causa raiz desta rodada de instabilidade no Oriente Médio, e todas as partes precisam trabalhar urgentemente para um cessar-fogo abrangente e duradouro”, diz o comunicado.

Entenda o cenário tenso no Oriente Médio

Na madrugada de terça-feira (1º), o Irã lançou cerca de 200 mísseis balísticos contra Israel e afirmou que foi uma retaliação pelos recentes assassinatos de altos oficiais do Hezbollah e do Hamas.

Analistas chineses veem esse ataque como a mais recente escalada nas tensões regionais, enquanto o conflito entre palestinos e israelenses já se arrasta por quase um ano, com um potencial crescente de se espalhar para conflitos regionais de múltiplos pontos.

A Guarda Revolucionária Islâmica do Irã afirmou na terça-feira que lançou dezenas de mísseis balísticos contra centros estratégicos em Israel em retaliação pelas ações israelenses, que incluíram o assassinato do chefe do Politburo do Hamas, Ismail Haniyeh, do secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, e de um comandante sênior da Guarda Revolucionária, Abbas Nilforoushan, além da intensificação das “ações maliciosas” de Israel, com o apoio dos EUA, contra os povos libanês e palestino.

O Irã utilizou pela primeira vez mísseis hipersônicos Fattah, e 90% de seus mísseis atingiram seus alvos em Israel, segundo a Guarda Revolucionária e a Reuters.

As Forças de Defesa de Israel afirmaram que realizaram um “grande número de interceptações”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse aos israelenses que o Irã “cometeu um grande erro” e “pagará” por lançar um ataque de mísseis contra o país.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, publicou na plataforma social X (antigo Twitter) na madrugada de quarta-feira que o Irã exerceu “autodefesa” contra Israel e que sua ação está concluída, a menos que o “regime israelense decida convidar mais retaliações”, conforme relatado pela Reuters.

“Nossa ação está concluída, a menos que o regime israelense decida convidar mais retaliações. Nesse cenário, nossa resposta será mais forte e poderosa”, acrescentou Araqchi.

Na terça-feira à noite, Jordânia, Iraque e Líbano anunciaram o fechamento de seu espaço aéreo após o ataque com mísseis iranianos.

Enquanto isso, 55 pessoas foram mortas e 156 ficaram feridas em ataques aéreos israelenses no Líbano nas últimas 24 horas, de acordo com o Ministério da Saúde libanês.

Com a escalada da guerra em todo o Oriente Médio na terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou para o fim imediato da violência.

“Condeno a ampliação do conflito no Oriente Médio, com escalada após escalada”, afirmou ele em uma declaração concisa. “Isso precisa parar. Precisamos urgentemente de um cessar-fogo.”

Segundo o Washington Post, a vice-presidenta dos EUA e candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, afirmou na terça-feira que condena “inequivocamente” o ataque do Irã a Israel e que “apoia totalmente” a ordem do presidente Joe Biden para que o exército dos EUA derrube os mísseis iranianos direcionados a Israel.

De acordo com a AFP, o Hezbollah afirmou na quarta-feira que entrou em confronto com soldados israelenses que tentaram infiltrar-se no Líbano, além de ter como alvo tropas israelenses na fronteira.

Analistas chineses comentam a situação

A movimentação do Irã é uma resposta a uma série de desenvolvimentos recentes na região, disseram especialistas. “Recentemente, tanto o Irã quanto a comunidade internacional avaliaram que o Irã está em uma situação bastante desfavorável”, afirmou Liu Zhongmin, professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, ao jornal chinês Global Times nesta quarta-feira.

“O Irã tem suportado pressão por um longo tempo, e essa ação pode ter a intenção de reverter a situação cada vez mais desfavorável para o país nos últimos meses”, observou Liu.

Especialistas chineses alertaram que a situação regional corre um alto risco de se transformar em conflitos de múltiplos pontos. Os EUA continuam a apoiar tacitamente Israel e permitem que o país tome qualquer ação militar sem restrições, disse Sun Degang, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Fudan, ao Global Times.

“Os EUA enviaram sinais errados aos aliados errados no momento errado, levando a uma escalada descontrolada da situação. Portanto, é provável que inevitavelmente eclodam conflitos em múltiplos pontos”, afirmou Sun. 

Especialistas também notaram que a dificuldade dos EUA em manter sua política de equilíbrio no Oriente Médio aumentará. Segundo Liu, o objetivo dos EUA é manter um apoio abrangente a Israel, ao mesmo tempo em que tentam evitar serem arrastados para uma nova rodada de conflitos, o que poderia afetar sua retirada estratégica do Oriente Médio e a mudança global de foco para a competição entre grandes potências.

Portanto, os EUA adotaram uma estratégia de ajustes militares dinâmicos. Sempre que a crise se agrava, aumentam sua presença militar no Oriente Médio para demonstrar apoio a Israel e dissuadir o eixo de resistência liderado pelo Irã, observou Liu. “No entanto, à medida que as tensões entre Israel e o Irã aumentam, alcançar esse equilíbrio será cada vez mais desafiador.”

Cidadãos chineses deixam o Líbano

Segundo o Departamento de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores da China, 146 cidadãos chineses no Líbano e cinco familiares estrangeiros chegaram em segurança a Pequim nesta quarta-feira em um voo fretado operado pela Air China, após 69 cidadãos chineses no Líbano, juntamente com seus 11 familiares estrangeiros, chegarem em segurança ao Chipre na terça-feira a bordo do navio Xin Xia Men do Grupo de Transporte Oceânico da China.

Todos os cidadãos chineses que desejaram evacuar já deixaram o Líbano em segurança. A embaixada chinesa no Líbano continuará seu trabalho e permanecerá de plantão, informou o departamento na quarta-feira.

Como a China se posiciona no Oriente Médio

A partir de 7 de outubro de 2023, a China tem mantido uma postura diplomática de moderação e apelo à paz em relação à escalada das tensões no Oriente Médio, especialmente envolvendo o conflito entre Israel e o movimento palestino Hamas, assim como o Irã e outros atores regionais.

A China frequentemente se posiciona como defensora de soluções pacíficas e multilaterais para os conflitos no Oriente Médio, afirmando que o direito à segurança de Israel deve ser respeitado, assim como os direitos dos palestinos à autodeterminação.

O conflito começou quando o Hamas lançou um grande ataque contra Israel, resultando em intensos combates e bombardeios na Faixa de Gaza. A China, por meio de um comunicado do seu Ministério das Relações Exteriores, pediu “moderação” de ambas as partes e convocou um cessar-fogo imediato. Pequim sublinhou a importância de um processo de paz mediado, ressaltando seu apoio à solução de dois Estados, onde israelenses e palestinos coexistiriam em segurança.

Ao longo de outubro e novembro de 2023, a China manteve um discurso voltado para o diálogo e a cooperação internacional. Em várias declarações oficiais, o governo chinês destacou que as potências globais devem desempenhar um papel construtivo para evitar a escalada do conflito.

A China mantém uma abordagem diplomática que visa evitar o confronto direto, promovendo o diálogo e a mediação como as principais ferramentas para resolver a escalada de tensões no Oriente Médio. Sua posição oficial tem enfatizado o respeito à soberania dos Estados e o direito à segurança tanto de Israel quanto dos palestinos, enquanto tenta equilibrar sua influência na região sem se envolver diretamente nas hostilidades.

Xi Jinping se encontra com líderes de Israel e do Irã

Março de 2017: Xi Jinping encontrou-se com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Pequim, onde ambos discutiram a ampliação das relações comerciais, tecnológicas e diplomáticas. Durante a visita, foi anunciada a criação da “parceria estratégica inovadora” entre os dois países, com foco em tecnologia e inovação.

Xinhua – Xi Jinping recebeu Benjamin Netanyahu, em Pequim, em março de 2017.

Janeiro de 2016: Xi Jinping visitou o Irã e se reuniu com o então presidente Hassan Rouhani e o líder supremo Ali Khamenei. Durante a visita, foi discutido o aprofundamento da cooperação econômica e a assinatura do acordo de cooperação de 25 anos, que inclui investimentos significativos nos setores de energia e infraestrutura.

Wikipedia – Xi Jinping visita o Irã e se reúne com o líder supremo Ali Khamenei em janeiro de 2016. 

Julho de 2023: Xi Jinping e o então presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morto em um acidente de helicóptero no dia 19 de maio deste ano, se reuniram em Pequim para reforçar o acordo de cooperação de 25 anos. O encontro também abordou a questão das sanções e o papel da China como mediadora no Oriente Médio.

Xinhua – Xi Jinping se reúne com o então presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em julho de 2023.

Relações China e Israel

As relações entre China e Israel têm evoluído significativamente ao longo das últimas décadas, com fortes laços comerciais e colaborações estratégicas em várias áreas. Apesar de algumas divergências em termos de alinhamentos políticos e geopolíticos, especialmente relacionados ao conflito entre Israel e Palestina, os dois países compartilham uma parceria robusta, centrada em comércio, tecnologia e infraestrutura.

A China é hoje um dos maiores parceiros comerciais de Israel. Em 2022, o comércio entre os dois países alcançou US$ 21,1 bilhões, com exportações israelenses para a China totalizando US$ 4,68 bilhões.

Os principais produtos exportados por Israel incluem equipamentos elétricos e eletrônicos, aparelhos ópticos, e fertilizantes. Por outro lado, a China exportou para Israel mercadorias no valor de US$ 16,48 bilhões, com destaque para veículos, maquinaria e produtos eletrônicos.

A crescente presença de veículos chineses no mercado israelense é notável, com os veículos chineses representando cerca de 17% das vendas de carros novos no início de 2023, um aumento de 450% em relação ao ano anterior.

A cooperação em tecnologia é uma área estratégica central na relação entre China e Israel. Em 2017, os dois países anunciaram uma nova fase de cooperação, focada na Iniciativa Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, e no intercâmbio de tecnologias inovadoras. Israel tem sido um destino importante para empresas chinesas interessadas em aproveitar a expertise tecnológica de Israel, especialmente em áreas como agrotecnologia, cibersegurança e biotecnologia.

Nos últimos anos, as empresas chinesas se tornaram grandes investidores em infraestrutura israelense. Isso inclui grandes projetos como a construção de novos portos em Ashdod e Haifa, bem como o desenvolvimento de uma parte significativa do sistema de metrô leve de Tel Aviv.

O porto de Haifa, por exemplo, foi modernizado pela Shanghai International Port Group, com um investimento de cerca de US$ 1,7 bilhão, aumentando significativamente a capacidade de movimentação de contêineres e contribuindo para o crescimento do comércio de Israel.

As relações comerciais entre os dois países estão em expansão, e a conclusão de um acordo de livre comércio está prevista para os próximos anos, o que pode impulsionar ainda mais o fluxo de comércio e investimentos.

Além disso, a inclusão do yuan nas reservas internacionais do banco central de Israel em 2022 marca um passo importante na diversificação das reservas de Israel, demonstrando a crescente relevância econômica da China para o país.

Apesar das divergências políticas, a relação entre Israel e China continua a florescer, com expectativas de maior cooperação nos próximos anos em áreas de inovação, comércio e infraestrutura.

Relações da China com o Irã

A China é hoje o principal parceiro comercial do Irã, mantendo uma relação que se fortaleceu nos últimos anos, apesar das severas sanções internacionais impostas ao país do Oriente Médio. As trocas comerciais entre os dois países giram em torno de US$ 20 bilhões anuais, com destaque para o setor energético, infraestrutura e cooperação tecnológica e militar.

Um marco recente e fundamental dessa relação foi a assinatura de um acordo de cooperação de 25 anos, em 2021. O acordo prevê investimentos chineses de US$ 400 bilhões no Irã, abarcando setores estratégicos como petróleo, gás natural, telecomunicações e infraestrutura. Em troca, a China garante um fornecimento estável de petróleo iraniano a preços reduzidos, fortalecendo sua segurança energética.

Este acordo é uma resposta clara às tentativas dos EUA de isolar o Irã economicamente e, ao mesmo tempo, fortalece a presença da China no Oriente Médio, uma região crucial para seus interesses geoestratégicos, especialmente no contexto da Iniciativa Cinturão e Rota.

O comércio de petróleo é o eixo principal das relações econômicas sino-iranianas. Em 2022, o Irã exportou cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia para a China, frequentemente utilizando intermediários para contornar as sanções impostas pelos EUA. Com descontos oferecidos devido às sanções, o petróleo iraniano tornou-se uma fonte atraente para a China, que busca diversificar suas fontes de energia. Mesmo com restrições internacionais, os fluxos comerciais entre os dois países continuam robustos.

Além da energia, a China está envolvida em grandes projetos de infraestrutura no Irã. Empresas chinesas estão ativamente participando da construção de estradas, ferrovias e portos. Um exemplo é o projeto de expansão do Porto de Chabahar, uma peça-chave na estratégia da China para conectar o Irã com a Ásia Central e o Oceano Índico, promovendo suas rotas comerciais globais.

As sanções internacionais, especialmente as lideradas pelos Estados Unidos, complicam as transações comerciais entre China e Irã. No entanto, ambos os países têm encontrado formas de contornar essas restrições. Muitas transações são realizadas fora do sistema financeiro tradicional, utilizando troca de mercadorias e moedas alternativas ao dólar. A China também tem recorrido a intermediários para manter o fornecimento de petróleo iraniano.

Além do comércio e da infraestrutura, a cooperação tecnológica e militar entre os dois países também desempenha um papel significativo. A China tem fornecido ao Irã tecnologias de telecomunicações, além de suporte técnico para o desenvolvimento de capacidades militares. Embora menos visível do que os acordos comerciais, essa cooperação é um componente essencial da parceria bilateral, especialmente no fortalecimento da defesa iraniana diante das sanções ocidentais.

A China tem desempenhado um papel diplomático importante nas questões regionais envolvendo o Irã. Em março de 2023, Pequim foi fundamental na mediação da retomada das relações diplomáticas entre o Irã e a Arábia Saudita, encerrando anos de tensões entre os dois países. Esse movimento reforça a influência diplomática da China no Oriente Médio e destaca sua capacidade de atuar como mediadora em conflitos regionais.

As relações comerciais e estratégicas entre China e Irã são robustas e multifacetadas. Enquanto o Irã busca apoio econômico e diplomático para sobreviver às sanções internacionais, a China vê no país um parceiro chave para expandir sua influência no Oriente Médio e garantir acesso a recursos energéticos vitais. Com isso, a parceria sino-iraniana se fortalece em meio a um contexto global de tensões e disputas geopolíticas.

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