Na China, foram registados 143 novos casos de covid-19 na segunda-feira, o maior número de casos diários desde Janeiro, segundo a agência Reuters. O país só contabiliza os casos de doença e não os de infecção assintomática.
As autoridades levaram a cabo testagem em massa na cidade de Wuhan, onde o vírus foi detectado pela primeira vez, e impuseram restrições de movimento em grandes cidades, incluindo Pequim, onde não podem entrar pessoas vindas de zonas de risco. Estima-se que os surtos detectados em 20 cidades e mais de uma dúzia de províncias tenham tido origem num aeroporto, em Nanjing, no início do mês.
Alguns analistas expressaram preocupação com as consequências para a economia global se a China tiver surtos e levar a cabo confinamentos rigorosos em áreas maiores e durante mais tempo, podendo levar à interrupção da saída de bens do país, o que pode ter efeitos no comércio internacional, levar à subida de preços e a um aumento da inflação no mundo, disse à televisão norte-americana CNBC David Roche, presidente da consultora britânica Independent Strategy.
As autoridades têm-se mostrado confiantes na capacidade para controlar a situação. “Conseguimos conter com sucesso a epidemia em Cantão [Guangzhou], e a epidemia em Nanjing está a ser gradualmente controlada”, disse o especialista em doenças infecciosas Zhang Wenhong à agência estatal Xinhua.
Mas no país há cada vez mais especialistas em saúde pública a aconselhar uma estratégia de mitigação e não de supressão da covid-19, disse Huang Yanzhong, especialista em saúde global do Council on Foreign Relations, à televisão norte-americana CNN.
Se na Austrália e na China continental os casos estão a aumentar, a Nova Zelândia e a região de Hong Kong, que levaram a cabo a mesma estratégia, estão actualmente sem casos locais. Mas mesmo nesses países, há peritos a questionar durante quanto tempo é que manter o isolamento do resto do mundo será uma opção.
A estratégia de ‘zero-covid’ [supressão] teve obviamente muito sucesso em algumas partes do mundo nos últimos 18 meses”, disse Karen A. Grépin, professora de Saúde Publica em Hong Kong, à CNN. Enquanto outros países viram os seus sistemas de saúde com dificuldades para lidar com o aumento de doentes com covid-19, e registaram muitas mortes, a China e Austrália tiveram até hoje 4848 e 939 mortes, respectivamente.
A vida voltou ao normal após os duros confinamentos, com base no controlo das chegadas – o que causou, no entanto, problemas em países dependentes do turismo como a Nova Zelândia e a Austrália, com milhares de australianos a serem impedidos de voltar por limites no número de entrada e falta de espaço nos hotéis onde eram feitas as quarentenas.
“Apesar de ter tido sucesso, não creio que ninguém ache que isso seja o futuro”, declarou Grépin.
Dale Fischer, professor de doenças infecciosas no Hospital Universitário de Singapura, realçou que a muito maior transmissibilidade da variante Delta mudou totalmente o poder da abordagem. “Acredito que [a China e a Austrália] tenham sobrestimado a integridade das suas fronteiras”, disse à CNN. “Isso não foi um problema tão grande coma versão de Wuhan, mas quando aparece uma variante muito mais transmissível, fica exposta qualquer falha.”
Na Austrália, Sydney está há sete semanas em confinamento, e em Melbourne, que vai no sétimo confinamento, este irá manter-se assim até pelo menos 12 de Agosto.
O Governo australiano está a ser criticado sobretudo pelo lento ritmo de vacinação na Austrália, apenas com 22% de pessoas com mais de 16 anos com a vacinação completa, e a taxa de aprovação do Executivo é a menor desde a que se seguiu a incêndios desastrosos no Sudeste do país no início de 2020.