O café brasileiro ganhou uma vitrine sem precedentes na China. Em dezembro, a gigante chinesa Luckin Coffee lançou a “Temporada Brasil”, mobilizando cerca de 30 mil lojas no país para promover bebidas à base de café arábica brasileiro. A campanha, que combina presença física massiva com forte ativação nas redes sociais, mira principalmente o público jovem e estima a venda de cerca de 400 milhões de copos estampados com a marca “Café do Brasil”.
No centro da ação está a “Capivara Arábica”, mascote criada pela Luckin para dar rosto à campanha. O personagem mistura o grão de café arábica com a capivara, animal que se tornou queridinho entre os jovens chineses pela aparência tranquila e carismática. Segundo Victor Queiroz, gerente-geral do Escritório Ásia-Pacífico da ApexBrasil, a Capivara Arábica expressa a diversidade cultural do Brasil e tem potencial para se consolidar como novo símbolo de conexão entre consumidores chineses, o café brasileiro e o imaginário do país. Além de estampar copos e materiais promocionais, a mascote aparece em chaveiros e mini pelúcias distribuídos aos consumidores que escolhem as bebidas com grãos brasileiros.
A campanha é parte de uma estratégia mais ampla tanto da Luckin quanto do Brasil. Do lado chinês, a empresa afirma que a “Temporada Brasil” integra sua política de destacar origens globais de café e fortalecer o espaço do arábica brasileiro em seu portfólio. Do lado brasileiro, a ação se soma ao esforço da ApexBrasil para promover comercialmente o país e sua marca junto ao mercado chinês, fazendo com que o consumidor associe, de forma direta, a experiência do café diário à identidade brasileira.
Essa aproximação simbólica vem apoiada em compromissos robustos de fornecimento. Em junho do ano passado, foi fechado um acordo para a compra de até 120 mil toneladas de café brasileiro até o fim daquele ano, no valor de US$ 500 milhões, com a contrapartida de promoção do produto no mercado chinês. Antes disso, no fim de 2023, executivos da Luckin estiveram em Cacoal, em Rondônia, para conhecer cafés produzidos na Amazônia e adquiriram 4 mil sacas por meio do programa Exporta Mais Brasil. Mais recentemente, um novo memorando de entendimento prevê a aquisição de 240 mil toneladas de grãos brasileiros entre 2025 e 2029, em operação estimada em cerca de US$ 2,5 bilhões.
Os números de comércio confirmam o impulso da parceria. Entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou US$ 335,1 milhões em café não torrado para a China, montante que já supera em mais de 50% todo o volume vendido ao país asiático em 2024, quando as exportações somaram US$ 213,6 milhões. Para analistas do setor, a combinação de contratos de longo prazo com ações de marketing em grande escala, como a “Temporada Brasil”, ajuda a consolidar um novo patamar na relação Brasil–China no segmento de café, em que o grão deixa de ser visto apenas como insumo e passa a ocupar lugar de destaque na cultura de consumo jovem chinesa.













