China divulga programa inédito para desbravar o espaço sideral

China revelou um programa inédito para desbravar o espaço sideral. O plano nacional de desenvolvimento de médio e longo prazo para a ciência espacial vai orientar o planejamento das missões científicas e pesquisas espaciais do país de 2024 a 2050.

O programa, o primeiro desse tipo em nível nacional, foi divulgado nesta terça-feira (15) em conjunto pela Academia Chinesa de Ciências (CAS, da sigla em inglês), pela Administração Nacional do Espaço da China (CNSA, da sigla em inglês) e pelo Escritório de Engenharia Espacial Tripulada da China (CMSA, da sigla em inglês), em uma coletiva de imprensa realizada pelo Gabinete de Informação do Conselho de Estado.

“O tema das ondulações do espaço-tempo concentra-se na detecção de ondas gravitacionais de frequência média a baixa e ondas gravitacionais primordiais, com o objetivo de descobrir a natureza da gravidade e do espaço-tempo. A área prioritária dentro deste tema é a detecção de ondas gravitacionais baseadas no espaço”, disse Ding.

O programa descreve os objetivos de desenvolvimento da ciência espacial da China que inclui 17 áreas prioritárias sob cinco temas científicos principais, além de um roteiro de três fases.

Os cinco principais temas científicos incluem o universo extremo, ondulações do espaço-tempo, visão panorâmica Sol-Terra, planetas habitáveis e ciências biológicas e físicas no espaço, conforme explicou Ding Chibiao, vice-presidente da CAS, durante a coletiva de imprensa.

O tema do universo extremo foca na exploração da origem e evolução do universo ao revelar as leis físicas sob condições cósmicas extremas. As áreas prioritárias vão desde matéria escura e universo extremo até a origem e evolução do universo, além da detecção de matéria bariônica cósmica – matéria comum que compõe as estrelas, planetas, gases e todos os corpos visíveis no universo.

O tema da visão panorâmica Sol-Terra envolve a exploração do Sol, da Terra e da heliosfera para desvendar os processos físicos e as leis que governam as interações complexas dentro do sistema Sol-Terra.

As áreas prioritárias incluem os sistemas cíclicos da Terra, observações abrangentes Terra-Lua, observação do clima espacial, exploração tridimensional do Sol e exploração da heliosfera.

Busca de vida extraterrestre

Os cientistas também vão explorar a habitabilidade de corpos celestes no sistema solar e exoplanetas e buscar vida extraterrestre. As áreas-chave desse tema abrangem o desenvolvimento sustentável, a origem e evolução do sistema solar, a caracterização de atmosferas planetárias, a busca por vida extraterrestre e a detecção de exoplanetas.

“O tema das ciências biológicas e físicas no espaço busca revelar as leis do movimento da matéria e das atividades vitais em condições espaciais, para aprofundar a compreensão da física fundamental, como a mecânica quântica e a relatividade geral. As áreas prioritárias abrangem a ciência da microgravidade, mecânica quântica e relatividade geral, e as ciências da vida no espaço”, acrescentou Ding.

Exploração lunar

O programa delineia um roteiro para o desenvolvimento da ciência espacial na China até 2050.

Na primeira fase, até 2027, a China se concentrará na operação da estação espacial para implementar o projeto de exploração lunar tripulada, a quarta fase do programa de exploração lunar e o projeto de exploração planetária. Serão aprovadas entre cinco e oito missões científicas espaciais durante o período.

A estação internacional de pesquisa lunar, iniciada pela China, será construída durante a segunda fase, de 2028 a 2035, e aproximadamente 15 missões científicas de satélites serão realizadas durante esse período.

Na terceira fase, de 2036 a 2050, a China lançará mais de 30 missões científicas espaciais.

“Na próxima década, a estação espacial da China focará em tecnologias de ponta, abordando necessidades nacionais importantes e promovendo a saúde e o bem-estar do povo. O foco será em quatro áreas de pesquisa: pesquisa sobre vida espacial e corpo humano, física de microgravidade, astronomia espacial e ciência da Terra, e novas tecnologias e aplicações espaciais, segundo Lin Xiqiang, vice-diretor do CMSA.

Astronomia espacial

A China planeja lançar um telescópio espacial de 2 metros de diâmetro para explorar questões de vanguarda na astronomia espacial. Para apoiar sua operação e pesquisa, centros científicos foram estabelecidos na Universidade de Pequim, na região do Delta do Rio Yangtzé e na Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, para alcançar avanços na cosmologia, na ciência galáctica e no estudo de corpos celestes na Via Láctea e no sistema solar, explicou Lin.

O programa de exploração lunar tripulada da China proporcionará uma oportunidade histórica para a exploração de corpos extraterrestres.

“Vamos coordenar o uso de testes não tripulados e missões lunares tripuladas para realizar experimentos científicos em grande escala no espaço. Atualmente, planejamos objetivos científicos iniciais em áreas como ciência lunar e exploração e utilização de recursos”, acrescentou Lin.

Resultados da ida à Lua

A missão Chang’e-5 da China recuperou amostras da Lua pesando cerca de 1.731 gramas em 2020, as amostras lunares mais jovens já obtidas por humanos.

Yang Xiaoyu, diretor do Departamento de Engenharia de Sistemas da CNSA, disse na coletiva de imprensa que a administração entregou mais de 80 gramas das amostras da Chang’e-5 para 131 equipes de pesquisa chinesas, levando a descobertas científicas significativas em vários campos.

A missão Chang’e-6 da China coletou 1.935,3 gramas de amostras do lado oculto da Lua em junho deste ano, alcançando um feito sem precedentes na história da exploração lunar humana.

“Cientistas chineses conduziram análises físicas, minerais e de composição química das amostras da Chang’e-6. Pesquisas preliminares sugerem que as amostras contêm informações relacionadas à evolução inicial da Lua e às atividades vulcânicas no lado oculto da Lua”, disse Yang.

A China lançará as missões Chang’e-7 e Chang’e-8 e, atualmente, avalia a viabilidade de construir uma estação internacional de pesquisa lunar na Lua. A missão Chang’e-7 vai explorar o ambiente e os recursos do polo sul da Lua, enquanto a Chang’e-8 vai conduzir experimentos para a utilização in loco de recursos lunares e formará o modelo básico da estação de pesquisa lunar com a Chang’e-7, de acordo com Yang.

Além disso, a China planeja enviar uma sonda a um asteroide próximo à Terra para recuperar amostras como parte da missão Tianwen-2, com o objetivo de revelar o processo de formação e evolução dos asteroides e a história inicial do sistema solar.

A China também planeja lançar a missão Tianwen-3 para coletar amostras de Marte para estudar o ambiente do planeta. Para a missão Tianwen-4, a China planeja explorar o sistema de Júpiter para estudar a história evolutiva de Júpiter e suas luas, e desvendar os mistérios do ambiente espacial e da estrutura interna de Júpiter, finalizou Yang.

Leia o plano na íntegra

Plano Nacional de Desenvolvimento de Ciência Espacial de Médio e Longo Prazo (2024-2050)
Data de publicação: 15 de outubro de 2024

Academia Chinesa de Ciências (CAS), Administração Nacional do Espaço da China (CNSA), Escritório do Programa Espacial Tripulado da China (CMSA)
Publicado em conjunto
Outubro de 2024

Para implementar os princípios do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista e das decisões da segunda e terceira sessões plenárias do 20º Comitê Central, e promover o desenvolvimento abrangente da ciência espacial, tecnologia espacial e aplicações espaciais, este plano foi formulado como a base para guiar a implantação das missões de ciência espacial da China e a realização de pesquisas científicas espaciais, no presente e no futuro.

I. Objetivos de Desenvolvimento

(1) Objetivo Geral

Planejar e implementar progressivamente as missões espaciais nacionais, coordenar e fortalecer a pesquisa básica impulsionada por missões, formar uma equipe de alto nível de talentos em ciência espacial e continuamente alcançar resultados inovadores de grande influência internacional. O objetivo é garantir um desenvolvimento de alta qualidade na ciência espacial, promover a inovação tecnológica espacial e atualizar as aplicações espaciais, posicionando a China entre os líderes globais e transformando o país em uma potência na ciência espacial.

(2) Objetivos por Fase

Até 2027:

  • Elevar o nível geral da pesquisa científica em áreas como astronomia de alta energia, conexões Sol-Terra, origem e evolução da Lua e Marte, física de microgravidade e ciências da vida no espaço.  
     
  • Implementar missões científicas espaciais em áreas de fronteira, como matéria escura, ondas gravitacionais, exoplanetas e sistemas solares. Serão lançadas entre 5 a 8 missões científicas espaciais, incluindo grandes missões com potencial para produzir resultados significativos.

De 2028 a 2035:

  • Alcançar posição de liderança em áreas-chave, como ondas gravitacionais, exoplanetas habitáveis e exploração solar. Serão implementadas aproximadamente 15 missões científicas espaciais, incluindo 4 a 5 grandes missões.  
     
  • A China deverá estar entre as nações líderes em inovação científica e tecnológica espacial, consolidando sua força de trabalho e aumentando sua influência internacional.

De 2036 a 2050: 

  • Tornar-se uma potência global em ciência espacial, realizando avanços revolucionários em pesquisa básica sobre a origem e evolução do universo, a natureza do espaço-tempo e a origem da vida.
     
  • Liderar o desenvolvimento global da ciência espacial, implementando mais de 30 missões científicas espaciais.

II. Direções Prioritárias de Desenvolvimento

Com base nas necessidades estratégicas do país e nas fronteiras da ciência espacial, foram identificados cinco temas científicos principais, que incluem:

  1. Universo Extremo: Focar na exploração da origem e evolução do universo, incluindo matéria escura e radiação de alta energia.  
     
  2. Ondulações do Espaço-Tempo: Detectar ondas gravitacionais de baixa e média frequência para entender a natureza do espaço e da gravidade.  
     
  3. Visão Panorâmica Sol-Terra: Explorar o sistema Sol-Terra para entender as interações complexas entre o Sol, a Terra e a heliosfera.
     
  4. Planetas Habitáveis: Investigar a habitabilidade de corpos celestes e exoplanetas, bem como buscar sinais de vida extraterrestre.  
     
  5. Ciências Físicas e Biológicas no Espaço: Estudar a dinâmica da matéria e as atividades vitais sob condições espaciais para aprofundar a compreensão da física fundamental.

III. Roteiro de Desenvolvimento

O plano será implementado em três fases:

  1. Primeira fase (até 2027): Operação da estação espacial chinesa e implementação da exploração lunar tripulada e do programa de exploração planetária. Serão aprovadas 5 a 8 missões de satélites científicos.
     
  2. Segunda fase (2028-2035): Construção da estação internacional de pesquisa lunar e execução de aproximadamente 15 missões científicas espaciais.  
     
  3. Terceira fase (2036-2050): Lançamento de mais de 30 missões científicas espaciais, consolidando a posição da China como líder global em ciência espacial.

Para atingir esses objetivos, é necessário fortalecer a implementação organizacional, garantir o financiamento, aprimorar as capacidades básicas, promover a cooperação internacional e alcançar avanços científicos significativos.

Fonte: CNSA (em chinês)

Siga os perfis da Revista Fórum e da jornalista Iara Vidal no Bluesky

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui