Bernardo Arévalo toma posse como presidente da Guatemala após nove horas de atraso

Em meio às tentativas de ameaça democrática e tensão no Congresso, político de esquerda prometeu fiscalizar a corrupção das instituições do país

(Foto: Reprodução/TX/@pedroabramovay)

O presidente de esquerda eleito da Guatemala, Bernardo Arévalo, tomou posse com atraso de nove horas, na madrugada desta segunda-feira (15), em meio a um clima de tensão democrática e tentativa de golpe. O mandato presidencial de Arévalo é de quatro anos e termina em 2026.

Por volta das 3h25 da manhã (horário de Brasília), o presidente finalizou seu juramento em uma cerimônia cuja previsão de horário de posse era às 16h. O evento ocorreu cinco meses após a eleição de Arévalo e sua vice, Karin Herrera. Ambos são do partido Movimento Semilla, que derrotou a ex-primeira-dama e favorita ao cargo Sandra Torres em 2023.

No Teatro Nacional da Guatemala, a cerimônia contou com representantes de países sul-americanos e de órgãos internacionais, como Gustavo Petro (presidente da Colômbia), Gabriel Boric (presidente do Chile), Felipe VI (rei da Espanha) e Josep Borrell (chefe da diplomacia da União Europeia).

Escolhidos pelo governo Lula (PT), o Brasil enviou o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o diplomata Benoni Belli, representante brasileiro na Organização dos Estados Americanos (OEA) – que além de enviar sua delegação, emitiu declaração em apoio à Arévalo.

Arévalo recebeu a faixa presidencial e a chave da Constituição por um deputado de seu partido, Samuel Pérez, presidente do Congresso em seu segundo mandato, aos 31 anos.

O atraso

O atraso ocorreu devido a uma interrupção dos trâmites de posse. Arévalo e os membros do Congresso foram impedidos de realizar o juramento por um grupo golpista conhecido como  “Pacto de Corruptos”. Os congressistas foram barrados dentro do Parlamento: “Aqui está sendo preparado o golpe!”, anunciaram.

Desde sua eleição, no ano passado, houveram tentativas de impedir Arévalo de assumir o cargo. O procurador-geral da Guatemala, aliado do presidente cessante Alejandro Giammattei, moveu ações com pedidos de suspensão do partido Semilla, anulação do pleito e retirada da imunidade legal do candidato.

O que Arévao já denunciava como “golpe”, à época, foi comprovado pelos parlamentares que presenciaram as artimanhas das forças institucionais para impedir sua posse do candidato de esquerda.

O ato protocolar para tomada de posse do Parlamento durou mais de 12 horas e viu a cerimônia ultrapassar o prazo estipulado por lei.

Discurso de posse

Em seu discurso como presidente recém-empossado, Arévalo declarou o apoio incondicional à democracia: “Hoje, como nação, estamos fazendo história. Para atender a esse chamado, temos um plano. Não pode haver democracia sem justiça social e a justiça social não pode prevalecer sem democracia”.

Para tanto, ele reconheceu o papel dos quatro povos guatemaltecos – Ladino, Maia, Garífuna e Xinka – que lideraram manifestações nas ruas da capital, Guatemala City, para atrair atenção da comunidade internacional da ameaça golpista que tomava curso no país. 

Segundo ele, tanto os povos tradicionais quanto as instituições democráticas, como o Tribunal Supremo Eleitoral e o Tribunal Constitucional cumpriram o “desejo dos guatemaltecos de viver na democracia”.

Diante do que considerou como um recuo autoritário, Arévalo prometeu seguir uma política anti-corrupção, um problema endêmico na Guatemala. De acordo com ele, “não se permitirá que as instituições funcionem com corrupção”.

“Estamos perante novos fenómenos autoritários, como a cooptação corrupta de instituições estatais por grupos criminosos que exploram a sua aparência democrática para trair os princípios de liberdade, equidade, justiça e fraternidade em que se baseiam. Esta é a luta que enfrentamos na Guatemala e em outras partes da América Central.”

“O povo da Guatemala falou de maneira contundente, já basta de tanta corrupção. […] Agora, unidos com o povo da Guatemala, lutaremos contra a corrupção”, discursou Arévalo.

Quem é Bernardo Arévalo

Bernardo Arévalo de León, de 65 anos, é diplomata de carreira, sociólogo e escritor. Nasceu em Montevidéu, Uruguai, durante o exílio de seus pais. Ele é filho do ex-presidente Juan José Arévalo (1945-1951), alvo do primeiro golpe de estado operado pela CIA no continente. Retornou à Guatemala em 2013. Foi vice-ministro de Relações Exteriores e embaixador na Espanha.

No dia 20 de agosto de 2023 obteve os 58,01% dos votos na eleição contra Sandra Núñez, do UNE, para o sucessor de Alejandro Giammattei na presidência da Guatemala. Arévalo ainda enfrentará um Congresso, dominado pelo UNE e pelo Vamos, de seu antecessor.

O Movimento Semilla tem como principais propostas reformas econômicas de esquerda, a defesa de um amplo sistema de ensino, além de criar uma sistema de saúde pública na Guatemala, bem como melhores relações com a China.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui