Isso acontece pela chamada Lei César. Ela foi assinada pelo presidente dos Estados Unidos em 20 de dezembro de 2019. Este documento dá à administração dos EUA o direito de impor medidas restritivas contra organizações e indivíduos que prestam assistência direta e indireta ao governo sírio.
A lei sancionatória abrange também o envio de medicamentos, ajuda humanitária, equipamentos de busca e resgate, além da descarga de aviões na Síria.
O cientista político sírio Hassan Youssef considerou ser necessário não politizar as difíceis condições que a Síria está enfrentando devido ao desastre provocado pelo terremoto, especialmente porque a situação em áreas sob controle do governo e fora de seu controle está ficando mais complicada.
“Muitos países árabes anunciaram assistência ao Estado sírio, isso inclui países como a Arábia Saudita e Catar, e especialmente o Sultanato de Omã, Bahrein, Emirados Árabes Unidos (EAU), Argélia e Líbano, eles se dispuseram imediatamente a ajudar Damasco. A assistência humanitária prestada por todos estes países pode ser um importante ponto de partida para melhorar as relações entre todos os países árabes da região à luz das divergências existentes.”
O especialista acrescentou que esta catástrofe pode ser uma oportunidade para aproximar os países árabes da Síria, especialmente aqueles que têm sido hostis a ela.
“A retomada das relações pacíficas entre países árabes é aquilo que todos esperam, mesmo sem surgirem terremotos ou quaisquer outras calamidades naturais.”
Por seu lado, o cientista político sírio Alaa al-Asfari exclui que a catástrofe humanitária que se abateu sobre a Síria leve ao desenvolvimento de relações políticas entre Damasco e os países que não têm vontade e decisões políticas próprias. De acordo com suas declarações à Sputnik, a maioria dos países do Golfo sofrem pressão dos EUA e, temendo a ira de Washington, esses países não podem criar relações fortes com Damasco, embora queiram.
Ao mesmo tempo, existem outros caminhos internos para a normalização das relações, que estão gradualmente sendo construídas entre a Síria e Arábia Saudita longe do olhar da mídia. Al-Asfari acredita que esta catástrofe deve “tornar-se uma porta para retirar as sanções injustas dos EUA e do Ocidente contra a Síria”.
O analista sírio acredita que deve haver “uma posição árabe unida e ações unidas, apelando ao cancelamento dessas sanções injustas, para que a Síria possa continuar as operações de resgate, já que centenas de cidadãos ainda estão sob os escombros, enquanto a defesa civil síria está tentando salvá-los com ferramentas simples e primitivas”.
“A Turquia, que sofreu a mesma catástrofe, virou-se para parceiros europeus, americanos e outros, e agora há uma ponte aérea direta ligando o Catar e a Turquia para ajudar os turcos a lidar com esse desastre, enquanto a Síria ainda está ‘cercada’, esperando que os países árabes possam exercer conjuntamente pressão sobre a comunidade mundial para tornar mais fácil para a Síria combater a catástrofe que a atingiu.”
Al-Asfari apontou para a necessidade de uma cooperação árabe para ajudar Damasco. O Crescente Vermelho sírio anunciou sua prontidão para aceitar qualquer assistência internacional de qualquer país, exceto Israel, sublinhando que os países ocidentais não estão preocupados nem interessados na catástrofe humanitária que se abateu sobre os sírios.
Os países ocidentais não se apressam sequer a falar de um tema incômodo para eles: ninguém afirmou que ajudaria a Síria, nem mesmo hipoteticamente. Os EUA, por seu lado, estão dispostos a ajudar apenas a Turquia. Nem se fala de cancelar as sanções à Síria, mesmo que apenas temporariamente.
Então, por que a comunidade internacional mantém o silêncio, sabendo que os EUA estão de fato deixando os sírios morrerem nesta situação catastrófica? E quais países poderiam seguir o exemplo da Rússia, do Irã e dos países árabes com as suas entregas direitas de ajuda – tanto humanitária como de busca e salvamento?
Por exemplo, a Arábia Saudita fechou os olhos às divergências políticas e não misturou a política com vidas humanas. O especialista político e estratégico saudita Fawaz Kaseb al-Enezi, em uma conversa com a Sputnik, explicou que “o Reino isola sempre suas posições humanitárias das políticas, e para o Reino da Arábia Saudita é natural que ele esteja constantemente presente entre os países que fornecem assistência médica, alimentar e financeira ao povo sírio, já que a Arábia Saudita está preocupada com a segurança nacional árabe, que pode estar ameaçada por tais desastres naturais”.
De acordo com o especialista, tais ações da Arábia Saudita contribuem para a aproximação dos países do Golfo com Damasco como parte dos esforços do Reino para nivelar e unificar diferentes pontos de vista sobre a questão síria, um dos mais importantes a nível regional e internacional.