China enfrentará desafios se quiser frear rali das commodities

A resposta é complicada por vários fatores, como políticas para poluição e importações que só serviram para agravar a oferta limitada

O custo mais alto das commodities para indústrias e famílias é uma ameaça ao crescimento econômico da China e ao poder de compra dos cidadãos.

Com os aumentos dos preços de diversos produtos, como cobre e aço usados na construção, carvão que aquece residências e abastece fábricas, e milho usado em ração, o que o governo chinês pode fazer para frear o rali recorde?

A resposta é complicada por vários fatores, como políticas para poluição e importações que só serviram para agravar a oferta limitada. O governo de Pequim impôs restrições à produção de metais como aço e alumínio para reduzir as emissões, como parte do compromisso do presidente Xi Jinping de atingir uma economia neutra em carbono até 2060. E reduziu as compras de carvão e outras commodities, como o cobre da Austrália, devido à tensão entre as duas nações.

Além disso, o maior consumidor de commodities do mundo se vê obrigado a competir por matérias-primas no momento em que as economias globais se recuperam da pandemia, impulsionadas por estímulos em massa dos governos, especialmente dos Estados Unidos.

Isso acaba por diluir os esforços da China para controlar os mercados. Ainda assim, longe de impor controles de preços, o governo de Pequim tem opções que vão desde medidas direcionadas a certas commodities a ferramentas mais contundentes que afetariam toda a economia.

Restrições de negociação

As movimentadas bolsas de commodities da China costumam ser alvos sempre que o governo sente que os preços estão saindo do controle. Como de praxe, o salto do minério de ferro na segunda-feira levou a uma resposta contundente. A Bolsa de Commodities de Dalian prometeu “punir severamente” violações não especificadas nas negociações com minério de ferro ao aumentar as exigências de margem e estreitar as faixas de negociação diárias. A Bolsa de Futuros de Xangai também se comprometeu a colocar freios na negociação do aço, enquanto a Bolsa de Zhengzhou adotou medida semelhante para o carvão térmico.

O objetivo é esfriar fluxos especulativos que poderiam atrair ondas de investimento e gerar altas vertiginosas dos preços. O problema é que essa abordagem não ajuda necessariamente a administrar o dinamismo do próprio mercado físico. Os preços do aço estão subindo globalmente sem um mercado futuro realmente significativo. Ainda assim, os futuros de minério de ferro em Dalian mostraram leve desaceleração na terça-feira, enquanto o vergalhão e a bobina a quente em Xangai atingiram novas máximas com a expectativa de mais restrições. O carvão térmico também bateu novo recorde.

Oferta

A China pode se apoiar no amplo setor estatal para diminuir a escassez, medida que recentemente mostrou resultados conflitantes, na melhor das hipóteses. No mês passado, a principal agência de planejamento econômico disse às mineradoras de carvão que produzissem em níveis máximos da produção de inverno, o que teve pouco impacto na subida subsequente do mercado a níveis históricos. No caso do gás, o inverno excepcionalmente rigoroso levou a uma reprimenda oficial contra importadores devido à incapacidade de atender à demanda, o que parece ter motivado alguns a anteciparem as compras este ano.

Os esforços para aumentar o fornecimento de energia foram prejudicados por tensões diplomáticas com o governo da Austrália. A China proibiu importações de carvão australiano, uma das várias restrições a uma série de produtos, que incluem cevada e vinho. E pelo menos dois dos importadores de gás de menor porte da China foram orientados a evitar comprar mais gás da Austrália para entrega no próximo ano.

Liberar estoques

A China considerou vender cerca 500 mil toneladas de alumínio das reservas estaduais para esfriar o mercado. Os preços despencaram inicialmente com o plano, mas voltaram a subir para o nível mais alto em uma década. A produção chinesa do metal foi de 37 milhões de toneladas no ano passado, mais da metade do total mundial.

O país possui estoques de matérias-primas como cobre e soja, bem como enormes reservas de petróleo, mas as quantidades não são reveladas. Qualquer indicação de que o departamento de reservas é comprador ou vendedor pode mexer muito com os mercados. O plano de longo prazo pode incluir acumular mais metais básicos para as reservas estratégicas com o objetivo de garantir o abastecimento doméstico e amortecer potenciais déficits, embora qualquer programa de compra estatal agora poderia impulsionar ainda mais o atual rali.

Armazenar alimentos

A China também prepara seu colchão agrícola. O governo comprou grandes quantidades de milho dos EUA para as reservas estatais e pode liberá-las para conter quaisquer picos de preço antes da colheita doméstica no quarto trimestre. Autoridades também impuseram restrições às vendas estaduais de trigo em meio à preocupação de que as maiores compras de fábricas de rações para substituir o milho poderiam elevar os preços da nova safra de trigo, que será colhida em junho.

O governo de Pequim também reabastece as reservas de soja, adicionando o grão cultivado localmente pela primeira vez desde 2017 para frear qualquer possível inflação de alimentos. A safra doméstica não é geneticamente modificada e é usada para alimentos como o tofu, em vez de ração. A China também costuma liberar reservas de carne suína para esfriar o aumento dos preços do tipo mais consumido no país.

Política monetária

A maior preocupação é que os preços recordes das commodities acelerem a inflação global e os bancos centrais sejam muito lentos para conter a maré. No mês passado, os preços de fábrica no país mostraram a maior alta desde outubro de 2017, um aumento que provavelmente preocupou o Banco Popular da China.

Todos os mercados financeiros da China estão ansiosos por qualquer indicação de que o banco central chinês possa acelerar o aperto monetário à medida que o país finaliza sua recuperação da pandemia. Para os metais, regras mais rigorosas para empréstimos afetariam a demanda em todos os setores, como em imóveis, automóveis e bens de consumo. Ainda assim, a Bloomberg Economics acredita que o banco central ainda não está pronto para agir, já que os preços ao consumidor permanecem relativamente baixos.

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